Arezzo e Cortona: cenários de cinema na Toscana
Arezzo e Cortona ficam bem juntinhas, num canto da Toscana que nem sempre entra nos roteiros mais clássicos, o que pode ser considerado uma vantagem: ao contrário de outras cidadezinhas da região, ali você não vai encontrar hordas de turistas seguindo uma bandeirinha.
Arezzo fica a uma hora de trem ou de carro de Florença e é um boa opção de bate-volta para quem está hospedado na cidade.
O passeio de um dia é possível também para quem parte de outras cidades da Toscana, como Siena e Montepulciano, que estão a 1 hora de carro, e San Gimignano, a 1h30min.
Claro que se você for como eu, esse tempo de estrada aumenta um pouquinho, pois eu sempre escolho estradas menores em que posso parar quantas vezes quiser para tirar fotos das belas paisagens rurais e dos campos de girassol.
Cortona está a aproximadamente 30km de Arezzo e as melhores maneiras de fazer esse trajeto entre os centros históricos de ambas são de carro (em torno de 40 minutos) ou de ônibus (entre 1h e 1h10min).
AREZZO
Caso você chegue a Arezzo de carro, eu recomendo o Parcheggio Pietri, estacionamento localizado na parte alta da cidade que conta com uma escada rolante para levar os visitantes até o centro histórico.
Ao sair do túnel da escada rolante, você já estará em frente à Cattedrale dei Santi Pietro e Donato, o famoso Duomo di Arezzo, cuja construção se iniciou no século XIII.
Entre na igreja (gratuitamente) para apreciar os belo vitrais medievais, os relevos da pia batismal pintados por Donatello e o famoso afresco de Piero della Francesca retratando Maria Madalena.
Logo após a catedral, você avistará o Palazzo dei Priori, construído no século XIV e hoje sede da Prefeitura de Arezzo.
Se quiser curtir uma área verde e uma bela paisagem antes de mergulhar no centro histórico da cidade, dê uma passadinha no Passeggio del Prato, um parque que fica exatamente atrás do Duomo. Dali se tem uma vista bem legal para os campos e colinas da Toscana.
Ao lado desse parque você encontrará a Fortezza Medicea, uma fortaleza construída no século XVI a mando dos Medici para proteger a cidade.
Descendo pela Via dei Pileati, você passará em frente ao Palazzo Pretorio, cheio de brasões das famílias poderosas da cidade. Esse prédio foi construído entre os séculos XIV e XV e hoje abriga a biblioteca da cidade.
Continuando ladeira abaixo, é impossível não ter o olhar atraído pela Igreja Santa Maria della Pieve, toda de pedra e com uma enorme torre cheia de janelinhas construída em 1330. A torre inclusive foi apelidada de “delle cento bucche” (ou “dos cem buracos”).
Essa igreja é uma das mais antigas da Itália, visto que suas origens remontam ao ano 1000, mas sua fachada é um pouco mais recente, do século XIII.
Lá dentro, a principal atração é um políptico em têmpera e ouro do século XIV de autoria de Pietro Lorenzetti.
Entre na rua ao lado da Santa Maria della Pieve e, após alguns passos, estará em plena Piazza Grande, uma das mais célebres da Toscana.
Essa praça foi projetada pelo arquiteto e pintor Giorgio Vasari, nascido em Arezzo e muito festejado na Itália. Além de ser responsável por algumas das mais famosas obras do país, como o Corredor Vasariano (que liga Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti em Florença), Vasari escreveu uma série de biografias de artistas renascentistas italianos, contando ao mundo diversos detalhes antes desconhecidos das suas vidas.
A Piazza Grande é uma das mais bonitas e interessantes da Itália, pois tem o formato de um trapézio e um desnível de 10m de altura, o que faz dela uma praça “inclinada”.
São muitos os estilos arquitetônicos que circundam a praça, que tomou sua forma final no século XVI com a construção do Palazzo delle Loggie. Os arcos que cobrem a calçada em frente ao prédio (e as mesas dos restaurantes) foram projetados por Giorgio Vasari, sendo conhecido como “Logge di Vasari“.
O Palazzo della Fraternità dei Laici, também na parte alta da Pizza Grande, apresenta dois estilos principais: o gótico e o renascentista. Não deixe de olhar para cima e admirar o relógio preservado do Cinquecento, que é acionado manualmente todos os dias.
Também estão presentes na praça o estilo românico, com a abside da Igreja Santa Maria della Pieve, o barroco, no Palazzo del Tribunale, e o gótico, representado pelo Palazzo Lappoli, na parte mais baixa da Piazza.
Foi nessa praça que foram filmadas muitas cenas importantes do filme “A Vida é Bela” de Roberto Benigni, então aproveite para ver ou rever o filme antes de ir, para reconhecer todos os lugares depois!
Além disso, a Piazza Grande é famosa por receber dois importantes eventos da cidade.
O primeiro é a Feira de Antiquários de Arezzo, que acontece sempre no primeiro domingo do mês, e no sábado precedente (do mesmo final de semana). O evento enche a praça de barraquinhas durante o dia todo, começando às 9h e indo até o anoitecer (os horários de encerramento variam conforme a época do ano, então confirme nesse site aqui.
O segundo evento é a Giostra del Saracino, uma competição medieval de cavalaria em que os bairros da cidade competem entre si para ganhar a lança de ouro. É um torneio muito legal, que vale a pena ser presenciado, pois faz os visitantes serem transportados de volta à Idade Média, com todos os moradores vestidos à caráter, com bandeiras e uniformes coloridos enfeitando a cidade. A festa acontece sempre no terceiro sábado de junho e no primeiro domingo de setembro, então já anote na sua programação, caso esteja na Toscana nesses períodos!
Por fim, mas não menos importante, temos o local que é considerado um dos mais importantes de Arezzo: a Basílica de San Francesco. Essa igreja do século XIII abriga um famoso ciclo de afrescos de Piero della Francesca, pintados entre 1452 e 1466 na Capela Bacci, e hoje considerados uma das grandes obras-primas do Renascimento. Infelizmente, para poder admirar as 15 imagens que representam a chamada “Legenda della Vera Croce” (Lenda da Verdadeira Cruz), é preciso comprar ingresso com dia e hora marcada pela internet (o valor é de €9).
Como minha parada em Arezzo não era algo 100% programado (e ainda queria conhecer Cortona no mesmo dia), preferi não comprar os ingressos, então ficarei devendo fotos do local.
CORTONA
Terminado o passeio em Arezzo, seguimos nosso caminho até Cortona, passando, é claro, por belíssimos campos de girassol (é a recompensa que se ganha por aguentar o calor de julho na Toscana).
O final do trajeto é só subida: Cortona fica no alto de uma colina, a 600m de altura, o que vai garantir evidentemente uma bela vista quando você chegar lá em cima.
Os etruscos foram os principais responsáveis pela construção de Cortona e fizeram dela uma das mais importantes cidades em torno do século 5 a.C. (herança que ainda pode ser observada nas impressionantes muralhas etruscas que circundam o vilarejo).
Como sempre fico com medo de ter que subir escadarias intermináveis nessas cidadezinhas da Toscana, pesquisei um estacionamento que já ficasse mais ou menos no alto, e foi tranquilo. O nome é Parcheggio Piazza Mazzini e funciona com parquímetro.
De qualquer forma, é impossível não subir e descer algumas vezes durante o passeio por Cortona, pois quase todas as ruas da cidade têm alguma inclinação.
Para quem não sabe, Cortona é minuciosamente descrita no livro “Sob o Sol da Toscana”, de Frances Mayes e foi, posteriormente, cenário do filme de mesmo nome. É muito difícil alguém ler a obra da autora e não ficar doido de vontade de conhecer esse cantinho da Itália!
Apesar da fama, a cidade ainda é bastante pacata, com um movimento de turistas bem controlado e agradável. As ruelas medievais são muito autênticas, algumas bem estreitas, outras com escadarias de pedra, todas só esperando as lentes da sua câmera fotográfica.
Gostei muito do comércio também, bem simpático e delicado, com itens de bom gosto e sem exagero de lojas de souvenir.
Caso você, assim como eu, entre pela Porta Colonia (em frente ao estacionamento Piazza Mazzini), pode começar seu passeio pela Cattedrale di Santa Maria Assunta, o Duomo di Cortona, que fica bem ao lado da muralha etrusca. Documentada desde o século XI, a igreja recebeu o título de catedral em 1325, e hoje tem como principal atrativo turístico a tela “Adorazione dei Pastori” de Pietro da Cortona.
Também chama a atenção a vista do Val di Chiana logo em frente à catedral.
Dali, caminhe pela Via Casali até chegar à Piazza Signorelli, onde ficam o Palazzo Casali (do século XVI), sede do famoso Museo dell’Accademia Etrusca, e o Teatro Signorelli, em estilo neoclassico.
O nome Signorelli aparece tanto na cidade pois um de seus “filhos” mais célebres é Luca Signorelli, pintor renascentista que participou da decoração da Capela Sistina no Vaticano.
A Piazza Signorelli fica imediatamente conectada à Piazza della Repubblica, considerada o coração do centro histórico de Cortona. É ali que fica o Palazzo Comunale, do século XII, que hoje em dia abriga a sede da comuna.
É o lugar perfeito para tomar um gelato e relaxar assistindo ao vai-e-vem das pessoas.
Suba até a Piazzetta Pescheria, que forma uma espécie de varanda sobre a Piazza della Repubblica, garantindo uma vista panorâmica perfeita de todas as construções ao seu redor. Além disso, é um cantinho muito simpático de Cortona, com arcos do final do século XVII e pequenos estabelecimentos comerciais.
Continue sua caminhada pela Via Nazionale, onde fica a maior parte das lojinhas da cidade.
Em pouco tempo, chegará à Piazza Garibaldi, uma espécie de rotatória fora dos muros, com uma vista lindíssima dos campos da Toscana.
Caso ainda não esteja na hora de ir embora, pode explorar em mais detalhes as ruelinhas da cidade, entrar em museus e outras igrejas, visitar a Fortaleza de Girifalco e até mesmo procurar a casa de Frances Mayes, tão citada em “Sob o Sol da Toscana”.
Como eu ainda tinha muito chão pela frente, segui viagem em direção ao Val D’Orcia, muito satisfeita com a minha experiência nas lindinhas Arezzo e Cortona!
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