Chamonix Mont-Blanc no verão: o que fazer

Não sei se é porque vivo em um país tropical, mas tenho verdadeira fascinação por paisagens nevadas, especialmente montanhas. As minhas poucas experiências no alto de grandes cadeias montanhosas estão definitivamente no topo da lista das minhas melhores lembranças em viagens! E é por isso que resolvi compartilhar o meu amor por Chamonix Mont-Blanc com vocês e passar algumas dicas do que fazer por lá no verão (ou fora da temporada de esqui).

 Localizada na França, bem próxima à fronteira com a Suíça e a Itália, a cidade de Chamonix é a base utilizada por esquiadores, alpinistas e visitantes em geral para explorar as montanhas que formam o Maciço do Mont-Blanc. Dali, é possível pegar teleféricos e trens de cremalheira que levam os turistas ou aventureiros até glaciares, picos nevados, estações de esqui e trilhas na montanha.

Minha experiência foi no final da primavera/início do verão e eu não fiz nenhum tipo de escalada ou longas caminhadas, então minhas dicas são para um passeio voltado principalmente a se maravilhar com as paisagens alpinas, sem práticas de esportes (de verão ou inverno) e sem enormes esforços físicos.

A pequena cidade de Chamonix

A cidade de Chamonix Mont-Blanc, em si, é muito bonitinha: super bem cuidada, cheia de lojinhas e restaurantes no estilo da região da Alta-Savóia. No verão, tudo fica ainda mais lindo, cheio de flores coloridas que contrastam com os picos branquinhos das montanhas ao fundo. Recomendo a qualquer um que reserve pelo menos uma tarde para passear pela cidade e conhecer as diversas paisagens pitorescas escondidas por trás de cada esquina.

Por onde quer que você ande, ficará cercado de montanhas por todos os lados e ainda avistará, de vários pontos da cidade, a enorme geleira dos Bossons, que parece uma verdadeira avalanche prestes a “escorrer” sobre Chamonix Mont-Blanc. Não preciso nem dizer que é uma visão e tanto, ainda mais no verão!

Essa é a maior cascata de gelo dos Alpes, com aproximadamente 7,5km de comprimento. Pinturas antigas mostram que, no século XVII, o Glacier des Bossons chegava até o interior da cidade de Chamonix, mas, com o passar dos anos e com o aquecimento global, ele foi derretendo e diminuindo de tamanho.

Além disso, a cidade é cortada pelo Rio Arve, alimentado pelo gelo proveniente das montanhas que cercam Chamonix, o que dá a ele uma coloração acinzentada e leitosa muito interessante!

Por isso que, na minha opinião, um simples bate-e-volta até Chamonix Mont-Blanc no verão é um desperdício! Com certeza vai deixar você arrependido de não ter passado pelo menos uma noite na cidade. Isso sem falar que é sempre melhor subir qualquer montanha de manhã, o mais cedo possível, para aproveitar o céu claro. É muito comum as nuvens irem chegando ao longo do dia e, perto do meio-dia, acabarem cobrindo toda a vista maravilhosa que se tem lá do alto. Assim, o ideal é já acordar na cidade para começar bem cedo os passeios!

Aiguille du Midi

Um dos grandes atrativos de Chamonix Mont-Blanc é a oportunidade de chegar pertinho do pico mais alto dos Alpes e da Europa Ocidental, o Mont-Blanc, que chega a 4.810 metros de altura.

E a melhor forma de fazer isso é subindo até a Aiguille du Midi!

Bem no centrinho de Chamonix, fica a estação base do teleférico que leva, em apenas 20 minutos, até o topo da montanha chamada Aiguille du Midi (“Agulha do Meio-Dia”), a 3.842 metros de altitude.

Como eu já disse, procure chegar cedo para pegar o céu aberto (e também para aproveitar bem o passeio) e, caso vá apenas curtir as paisagens, sem caminhadas na neve ou escaladas, compre seu ingresso até a estação Aiguille du Midi (ida e volta), que custa em torno de 65 € para adultos.

O primeiro trecho da viagem de teleférico leva até a estação chamada “Plan de l’Aiguille”, que fica a 2.317 m de altitude. Ali há um pequeno bar e uma vista de tirar o fôlego das “agulhas” que cercam Chamonix, do gigante Mont-Blanc e do impressionante Glacier des Bosson. No verão, muitos aventureiros desembarcam definitivamente por ali para fazer trilhas nas montanhas (por isso há a opção de comprar ingresso só até o Plan de l’Aiguille).

É recomendado seguir direto até o topo e deixar para explorar o Plan de l’Aguille na volta, tendo em vista a possibilidade de o tempo fechar lá em cima.

A segunda parte do trajeto do teleférico, realizada sem qualquer pilar de sustentação, atravessa a geleira Les Pelerins e sobe pela face norte da Aiguille du Midi até chegar à estação final, a 3.778 m de altura.

Ao sair do teleférico, coloque seu casaco e prepare sua câmera: você terá uma grande área externa para explorar, com diversos terraços oferecendo vistas espetaculares dos Alpes franceses, suíços e italianos.

Mas não saia correndo! Lembre-se de que você estará a mais de 3.700m de altitude, o que pode ter certos efeitos sobre o seu corpo. Para acessar os vários mirantes, é preciso subir e descer alguns lances de escada, então faça isso com tranquilidade, sem afobação, se não quiser ficar com falta de ar ou dor de cabeça. E é claro, se tiver alguma condição especial de saúde, certifique-se antes de planejar seu passeio se você pode ir uma altitude tão grande!

Já nos primeiros terraços perto da estação do teleférico, você será transportado para um mundo de sonho, completamente diferente de tudo que já viu (se tiver passado a maior parte da sua vida no Brasil, é claro). São inúmeros picos nevados separados por grandes trechos completamente cobertos de branco, marcados apenas pelos minúsculos aventureiros que fazem trilhas na neve (há quem parta da Aiguille du Midi para escalar o Mont-Blanc!).

Nesse primeiro setor, conhecido por “pico norte”, onde fica o teleférico, há uma cafeteria, que funciona o ano todo, e um restaurante de gastronomia regional savoyarde, chamado “3842”, que abre apenas no verão.

Dali, após atravessar uma ponte, os visitantes chegam ao “pico central” da Aiguille du Midi, todo circundado por um túnel de aço com 32m (chamado “Le Tube”), que leva a outros maravilhosos mirantes, dos quais se podem observar, além das montanhas, o Glacier Géant e o Glacier des Bossons.

Entre as montanhas que você vai ver estão o Dome du Gouter (4304m), o Refuge Vallot (4362m), o Mont Maudit (4465 m), o Mont Blanc du Tacul (4248m) e, a mais alta de todas, o próprio Mont Blanc (4810m).

Por dentro do túnel, a gente também pode visitar o Espace Vertical, um museu localizado em uma caverna entalhada na rocha dedicado ao montanhismo e à escalada. Para quem gosta de superlativos, esse é considerado o museu mais alto do mundo, localizado a 3.377m de altitude.

Outras áreas são o espaço Hypoxie, com painéis interativos que explicam sobre a diminuição de oxigênio na altitude e seus efeitos sobre o corpo humano, e o espaço Mont-Blanc, uma área toda envidraçada, cheia de bancos, para que as pessoas possam sentar e admirar tranquilamente os três montes que circundam a Aiguille du Midi: o Mont Blanc du Tacul, o Mont Maudit e o Mont Blanc.

É no pico central, também, que se pega o elevador que sobe até o ponto mais alto da montanha, a 3.842m. Lá em cima, além de mais vistas espetaculares dos Alpes, há um cubo de vidro onde os visitantes podem entrar para se sentirem flutuando sobre as montanhas. Chamado de Step Into the Void, em inglês, ou Le Pas dans le Vide, em francês, o cubo de 2,5m comporta a entrada de bem poucas pessoas por vez, e fica sobre um precipício com 1.000m de profundidade!

Se você considerar indispensável brincar no cubo de vidro e ver a vista do ponto mais alto da Aiguille du Midi, sugiro pegar o teleférico em Chamonix antes das 9 horas da manhã, pois depois disso a administração da montanha não garante mais que o local esteja aberto para visitação. Como eu já disse, conforme a manhã vai avançando, as nuvens vão chegando, e o primeiro ponto a ser coberto, é claro, será o mais alto!

Passeio opcional na Aiguille: Panoramic Mont-Blanc

Tudo que eu mencionei aqui está incluso no valor que você pagou para subir até a Aiguille, mas existe um outro passeio bem legal disponível a partir de lá, chamado Panoramic Mont-Blanc. É um teleférico com gôndolas menores, para 4 pessoas, que leva da Aiguille du Midi, na França, até o Point Helbronner, na Itália. A viagem de 5km, que dura em torno de 30 min, é incrível, pois passa acima de um enorme vale coberto de neve (chamado Valée Blanche) e em meio a lindíssimas montanhas do Massif du Mont-Blanc.

Lá de cima, além da arrebatadora paisagem branca, você terá a oportunidade de observar o Glacier Géant e procurar alpinistas e montanhistas se aventurando no meio da neve.

Durante a minha travessia eu vi até uma avalanche, uma experiência inesquecível principalmente pelo barulho de trovão que parecia vir de outro mundo!

Chegando na estação italiana (Punta Helbronner), a 3.466m de altitude, os visitantes podem aproveitar um amplo terraço com vistas em 360º do Massif du Mont-Blanc, com uma perspectiva diferente, é claro, daquela que se tem na Aiguille du Midi.

Gostei muito de ver de pertinho também as modernas cabines do teleférico que leva da cidade de Courmayer, no Vale d’Aosta italiano, até o topo da montanha (Punta Helbronner), chamado de Skyway Monte Bianco. As cabines desse teleférico são semiesféricas e ficam girando suavemente durante a subida e a descida, para que os visitantes possam ter uma visão perfeita de tudo que os rodeia. Para quem está na Itália, parece ser uma ótima opção de passeio.

Em Punta Helbronner, você vai encontrar, ainda, um bistrô e uma exposição bem legal de cristais do Mont-Blanc.

O passeio no Panoramic Mont-Blanc custa 32 € (além do tíquete para ir até a Aiguille du Midi) e é uma ótima opção do que fazer em Chamonix Mont-Blanc no verão, pois só fica aberto mesmo durante essa estação do ano (e com boas condições meteorológicas).

Como o último horário para pegar o bondinho na Aiguille para ir até Punta Helbronner e depois voltar é 15h45, minha sugestão é deixar para decidir lá no topo da montanha se vai ou não no Panoramic Mont-Blanc. Assim você poderá ver como está o clima e quanto tempo tem para aproveitar o passeio (lembrando que no verão a última descida da Aiguille du Midi é entre 17h e 18h, dependendo da data exata).

Antes de ir embora da Aiguille du Midi, você ainda pode visitar uma exposição sobre a história da estação do teleférico e observar suas máquinas em funcionamento através de uma janela de vidro.

Algumas dicas gerais sobre a visita à Aiguille du Midi:

– Mesmo sendo verão, leve roupas de inverno, óculos de sol e protetor solar, pois você estará no topo de uma montanha cheia de neve, ou seja, estará frio e o sol vai refletir forte.

– Crianças menores de 3 anos não são admitidas e a administração da montanha não recomenda a subida a menores de 5 anos.

– Você pode comprar seus ingressos com antecedência pelo site e reservar um horário para sua visita, sem taxas adicionais. O interessante disso é garantir um horário bem cedo, para encontrar a montanha mais bonita e ter mais chance de visitar o Step Into de Void (cubo de vidro). Mas não exagere na antecedência! O ideal é fazer isso no dia anterior, depois de olhar a previsão do tempo. Você não vai querer pagar 65€ para subir numa montanha toda fechada pelas nuvens e não conseguir ver nada né?

– Reserve NO MÍNIMO 2h30 para sua visita (e pelo menos 1h30 a mais se for pegar o Panoramic Mont-Blanc até Punta Helbronner).

– Existe um passe que dá direito a visitar diversas atrações em um ou mais dias, chamado Mont-Blanc Multipass. Pode fazer você economizar vários euros dependendo dos lugares que pretenda visitar. Todas as informações e preços você encontra AQUI.

– Nesse link aqui, dentro do site do Mont Blanc Natural Resort, você encontra diversos folhetos para download que serão muito úteis na organização da sua visita, com preços, horários e informações atualizadas a cada estação.

Train de Montenvers – MER DE GLACE

A segunda “atração” mais popular de Chamonix Mont-Blanc no verão é o trem de cremalheira que leva até a maior geleira da França, conhecida como Mer de Glace (“mar de gelo”).

O passeio começa na estação do Train du Montenvers, que fica ao lado da estação normal da cidade de Chamonix (Gare de Chamonix Mont-Blanc). A partir dali, um lindinho trem vermelho leva os visitantes montanha acima (são 87m de subida), em uma viagem de 20 minutos pelo meio de mata fechada e túneis entalhados na rocha.

Chegando à Gare du Montenvers, a 1913m de altitude, você poderá se maravilhar com a paisagem, formada pelo glaciar Mer de Glace e por alguns dos altos picos que rodeiam Chamonix, como os Drus (3,754m), os Grands Jorasses (4,205m) e a Aiguille du Grepon (3,482m). Na estação há bar e restaurante com uma ótima vista.

Ali mesmo, um pequeno teleférico (incluído no passeio) leva os visitantes em direção ao Mer de Glace, onde poderão entrar em uma caverna de gelo cavada dentro da própria geleira.

Mas atenção: para chegar à caverna de gelo é necessário descer (e depois subir!!!) em torno de 550 degraus. Então, antes de fazer o passeio, pense bem nas suas condições físicas e separe uns 15 minutos para a descida e mais uns 30 para a subida!

A paisagem ali é muito interessante, pois a geleira é meio acinzentada por fora (tipo gelo sujo de pó), mas as cavernas que a gente vê são bem azuizinhas por dentro!

No fim das escadas, podemos entrar na caverna e observar algumas esculturas de gelo, tudo em meio a luzes coloridas.

O curioso é que a caverna precisa ser cavada novamente todos os verões, pois a geleira se move aproximadamente 70m a cada ano – inclusive, durante a descida da escadaria, a gente vê as marcas de até onde a geleira chegava antigamente. Infelizmente ela está derretendo e diminuindo cada vez mais…

O ingresso avulso do passeio completo no Train de Montenvers – Mer de Glace custa 34€ , mas também é possível utilizar o Mont-Blanc Multipass para visitar essa atração. Mais informações sobre valores e horários estão no site oficial.

Fora esses dois passeios, há muito mais para ver e fazer no Vale de Chamonix Mont-Blanc no verão e fora da temporada de neve em geral. São vários os teleféricos disponíveis para subir as montanhas que circundam o vale, de onde é possível ter diferentes vistas dos picos nevados, fazer belíssimas caminhas, voar de parapente e praticar alpinismo. Algumas boas opções são os teleféricos de Brévent, cuja base fica bem no centro de Chamonix, e Flégère, a 10min de carro do centrinho.  

E se quiser se permitir uma noite especial em um restaurante bem típico de montanha, com gastronomia da região da Savóia, recomendo muito o La Calèche, com uma localização bem central na principal rua de comércio da cidade. Fiquei absolutamente maravilhada com o tradicional prato de raclette: um enorme queijo que é derretido na própria mesa pelos clientes e consumido com pães, batatas, frios e picles. Uma experiência incrível que consegue ficar ainda mais interessante pela decoração do ambiente!

Como chegar em Chamonix Mont-Blanc

Você pode visitar Chamonix a partir da Suíça, da Itália ou da própria França. Os aeroportos mais próximos são os de Genebra (a 88km), Turim (a 171km) e Lyon (a 220km). A partir deles, há trens e ônibus disponíveis que levam até Chamonix.

A outra opção é ir até a cidade de carro, que foi o que fiz, vinda da região da Provence e de Annecy (uma cidade encantadora ao pé dos Alpes que você tem que conhecer!).

Nesse caso, a partir da França chega-se até Chamonix pela chamada Autoroute Blanche (E25-A40), que tem uma vista lindíssima das montanhas ao se aproximar da cidade.

Após sair de Chamonix, fui finalizar minha viagem em Milão, de onde saía o voo para o Brasil. Para chegar de Chamonix até a Itália, é necessário passar pelo incrível túnel do Mont-Blanc, construído em 1965 para ligar Chamonix, na França, até Courmayer, na Itália. Com 11,6km de comprimento, o túnel passa exatamente debaixo da Aiguille du Midi, a 2.480 abaixo da superfície – o que faz dele o segundo túnel mais profundo do mundo em funcionamento.

Essa brincadeira toda só tem um ponto negativo: o preço (e a claustrofobia, pra quem tem…). O pedágio para atravessar o túnel custa 46€!!! Então, se quiser visitar Chamonix e evitar esse gasto, não chegue ou saia da cidade pela Itália de carro.

Pronto, agora que você já se apaixonou por Chamonix Mont-Blanc como eu e já sabe que tem muito o que fazer por lá mesmo no verão, é só comprar a passagem e começar a fazer a mala! Vamos???

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