Étretat: o paraíso das falésias na Normandia

Étretat: o paraíso das falésias na Normandia

30 de agosto de 2023 0 Por Passagem Comprada

Se você gosta de belas paisagens naturais, o pequeno vilarejo de Étretat deve ser parada obrigatória no seu roteiro pela França. Suas falésias branquinhas estão entre as mais famosas do mundo e garantem um passeio inesquecível à beira-mar.

Falésia de Manneporte Étretat

Como chegar em Étretat

Localizada às margens do Canal da Mancha, na Normandia, Étretat fica a mais ou menos 240 km de Paris, o que permite um bate e volta meio apressado se você não tiver tempo de fazer uma viagem mais completa pela região.

De carro, são aproximadamente 3 horas de viagem, a maior parte do tempo em autoestrada.

mapa étretat

Caso prefira usar o transporte público, terá que pegar um trem até Le Havre ou Bréauté – Beuzeville e de lá mais um ônibus até Étretat. Dependendo dos horários escolhidos, essas rotas devem durar entre 3 e 4 horas.

Eu incluí Étretat em uma viagem de carro pela Normandia e pela Bretanha, então foi muito conveniente fazer um bate e volta a partir de Honfleur, onde me hospedei por 4 noites. Saí de manhã e em menos de uma hora estava lá!

Como é um lugar muito procurado nos meses de verão (o ventinho não é brincadeira no inverno), o ideal é tentar evitar finais de semana e feriados ou chegar cedo para conseguir lugar no estacionamento mais próximo à praia.

Praia de Étretat
Essa passarela é a única coisa que separa a praia do estacionamento

Eu cheguei às 11h30 e ainda consegui vaga no Parking Place du Général de Gaulle, super bem localizado. O tempo máximo de permanência ali é 5 horas, o que foi suficiente para explorar a parte principal das falésias dos dois lados, almoçar e dar uma volta no centrinho da cidade. O custo, em junho de 2023, foi de 11€.

Praia de Étretat

Ao chegar à passarela que fica em frente à praia, já fica fácil entender por que o local inspirou tantos artistas e escritores, como Claude Monet, Eugène Boudin, Guy de Maupassant e Maurice Leblanc – mais conhecido por seus livros sobre o ladrão Arsène Lupin, que deu origem à série Lupin da Netflix (inclusive há algumas cenas filmadas em Étretat no final da primeira temporada, caso queira dar uma olhada).

Praia de Étretat
Claude Monet em Étretat
Tem placas mostrando algumas obras pintadas em Étretat

A praia de Étretat é completamente “cercada” pelas lindas falésias e por suas formações rochosas especiais, que formam verdadeiras esculturas. A contemplação é maravilhosa, mas já aviso que caminhar pela praia exige um certo esforço: em vez de areia, você estará pisando sobre uma enorme quantidade de pedrinhas arredondadas, perfeitamente lisas pela ação das marés. Além de doer os pés (recomendo fortemente o uso de sapatilha de neoprene ou mesmo tênis), as pedras “afundam” a cada passo, dando uma canseira semelhante à de caminhar na neve!

Falésia d'Aval
Pedrinhas em Étretat

Obviamente é uma experiência bem interessante, então não deixe de brincar um pouquinho na praia (se levar uma toalha, pode até experimentar deitar para tomar sol – é duro e macio ao mesmo tempo! hahaha). Você pode dar uma caminhadinha mais perto das falésias também, para ter uma visão de um ângulo diferente, mas nunca fique bem embaixo delas: há diversas placas alertando para o risco de queda de pedras.

EMbaixo das falésias

Falésia de Aval

O principal passeio para quem visita Étretat é fazer as trilhas que sobem as falésias para os dois lados.

Comecei pelo lado esquerdo da praia, onde fica a Falésia de Aval, que tem como principais características uma linda “porta” aberta pelo trabalho das ondas (a Porte d’Aval) e a famosa Aiguille d’Étretat, uma formação rochosa com 55 metros de altura que lembra uma agulha surgindo de dentro do mar.

Porte d'Aval e Aiguille d'Étretat
Porte d’Aval e Aiguille d’Étretat

A subida é feita por um curto trecho de escada e depois por uma longa rampa. Sim, é um pouco cansativo para quem não tem preparo físico, mas não é impossível desde que você pare frequentemente para descansar e admirar a paisagem (o que não é nenhum sacrifício!).

Escadaria para subir a falésia
Escadaria para subir a Falésia de Aval
Subindo na Falésia d'Aval
E o resto da subida é assim

Há diversos mirantes e locais ótimos para tirar fotos, com a água do mar ficando cada vez mais verde esmeralda conforme a gente vai subindo.

Mirante étretat

Ao chegar no topo da Falésia de Aval, a 75 metros de altura, você encontrará a Chambre des Demoiselles (“quarto das donzelas”), uma grande cavidade na rocha que pode ser acessada por meio de uma passarela. Conta a lenda que três irmãs teriam se escondido ali dentro para fugir do Barão de Fréfossé depois de recusar seus avanços. Furioso, ele mandou fechar a entrada da caverna, condenando as irmãs à morte certa. Desde então, os seus fantasmas estariam por ali, assombrando o local.

Chambre des Demoiselles Étretat
Prestes a entrar “dentro” das falésias
Chambre des Demoiselles
Essa é a vista da pontezinha que leva à Chambre des Demoiselles

Eu achei bem divertido atravessar a ponte (dá um medinho), entrar na Chambre des Demoiselles e espiar pelos buraquinhos na rocha!

Lá do alto da trilha, também é possível admirar a maior das falésias de Étretat, a Manneporte, cujas alterações de tonalidade ao longo do dia encantaram Claude Monet e garantiram belíssimas interpretações por parte do pincel do artista.

Manneporte

O caminho entre a Aval e a Manneporte é plano e bastante agradável, então eu optei por ir até lá para aproveitar o dia tão lindo. Foi uma ótima escolha!

Manneporte

Do topo da Manneporte tive a vista mais linda da Porte d’Aval e da Aiguille d’Étretat, com um mar tão clarinho que parecia uma foto com filtro.

Étretat Porte d'Aval

Além disso, consegui observar mais um longo paredão rochoso para o outro lado e, ao fundo, o Farol de Antifer, o mais alto de Europa, a 140 metros acima do nível do mar. É possível inclusive caminhar até ele, mas acho que para esse passeio seria necessário ter mais tempo na cidade.

Étretat

Uma hora e meia depois, estava de volta à praia de Étretat, mesmo tendo feito todo o percurso com bastante calma e tirando muitas fotos.

Onde comer em Étretat

Para um merecido descanso antes de começar a subida para o outro lado, sugiro uma paradinha em um dos restaurantes à beira-mar, onde você poderá degustar frutos do mar fresquinhos e típicos da região, como o famoso prato de “moules frites” (mexilhões com batatas fritas) ou as ostras cruas, que têm muita história em Étretat.

Restaurante em Étretat
Os restaurantes em frente ao mar têm uma proteção contra o vento fortíssimo da região

Em 1777, foi construído um “parque de ostras” na praia da cidade, que passou a fornecer o insumo diretamente ao prato da rainha Maria Antonietta. As ostras eram pescadas em Cancale e trazidas para passar uma temporada em Étretat, recebendo uma alternância de água doce de fontes subterrâneas e água salgada do mar, o que as deixava com um sabor mais delicado e especial, bem ao agrado da rainha.

É legal quando até a comida que a gente experimenta tem alguma história para contar né?

Outra opção bem agradável é preparar antecipadamente um piquenique e escolher algum local no topo das falésias (ou na beira da praia) para sentar e comer apreciando a paisagem!

Falésia de Amont

Depois do almoço, eu subi até o topo da Falésia de Amont, a linda formação rochosa que fica do lado direito da praia. A escultura formada pelo mar na ponta da falésia tem um formato tão interessante que foi comparada, por Guy de Maupassant, a um elefante mergulhando sua tromba na água.

Falésia de Amont

A subida da Falésia de Amont é mais curta, mas mais íngreme do que a de Aval, feita inteiramente por uma grande escadaria. Eu achei mais cansativo por ter menos lugares interessantes para admirar no caminho (a gente acaba subindo tudo de uma vez só, demora menos de 10 minutos). Dizem que tem um trajeto pela Rue Jules Gerbeau onde não há escadas, mas é mais longo e também bastante íngreme.

Escada para Falésia de Amont
Primeira parte da subida

Caso você leia na internet que é possível subir até lá de carro, saiba que isso mudou e agora a única outra maneira de chegar ao topo da falésia é com um trenzinho turístico que parte da Prefeitura de Étretat.

No fim da subida, temos uma vista espetacular da Falésia de Aval, da praia e da cidadezinha de Étretat para o lado esquerdo.

étretat vista da falésia de amont

Já para o lado direito, ficamos pertinho do arco da Falésia de Amont que, conforme a maré vai baixando, lembra cada vez mais um elefante.

Tromba do elefante Étretat

No alto da falésia, fica a Capela Notre-Dame-de-la-Garde, construída inicialmente em 1855, mas totalmente destruída pelos alemães em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. A capela atual foi inaugurada em 1950 e é dedicada aos marinheiros que arriscam suas vidas diariamente nas águas da região. Infelizmente não pude chegar nem perto da igrejinha, pois estava passando por uma grande reforma quando visitei.

Capela Notre-Dame-de-la-Garde
Falésia de Amont

Atrás da capela, chama a atenção um monumento pontudo de 24 metros de altura, construído em 1963 em homenagem a Ningesser e Coli, uma dupla de aviadores que tentou realizar o primeiro voo direto entre Paris e Nova York, em 1927. Infelizmente, o avião chamado de L’Oiseau Blanc (“pássaro branco”) acabou desaparecendo, tendo sido visto pela última vez em Étretat (por isso a escolha do local para o monumento).

White Bird
L’Oiseau Blanc

Dali, há uma trilha muito bonita que vai costeando as falésias, com vista, de tempos em tempos, para os enormes paredões esbranquiçados e para as pequenas praias que se formam entre eles. Eu caminhei por uns 20 minutos curtindo a paisagem e depois resolvi voltar, pois ainda queria dar uma voltinha no centro antes de tirar o carro do estacionamento.

Amont

Centrinho de Étretat

O centrinho de Étretat é pequeno, mas muito simpático. Diversas lojas de produtos regionais e souvenirs ocupam seus lugares em casas de estilo normando e convidam a olhar suas vitrines e a entrar para degustar algumas das especialidades locais, como o licor Calvados, a cidra e o caramelo salgado.

Centrinho de Étretat

Um dos prédios que chama a atenção de quem passeia por Étretat é o Manoir de la Salamandre, com todos os traços típicos da arquitetura normanda, incluindo muitos trabalhos em madeira. O interessante é que essa casa foi construída no século XIV em Lisieux, mas no fim do século XIX foi desmontada e reconstruída em Étretat. Hoje em dia, abriga o Hotel La Residence.

Manoir de la Salamandre

Às 16h chegamos de volta ao estacionamento e, como ainda era cedo (no verão anoitece depois das 22h na França), decidimos dirigir por 20 minutos até Fécamp, outra cidade cheia de falésias.

Fécamp

Ao chegar em Fécamp, fomos direto para um mirante que fica na Route du Phare, de onde é possível admirar toda a cidade e também uma interminável “muralha” de falésias branquinhas na beira da praia. Nesse horário, as fotos ficaram um pouco contra o sol, mas conseguimos ter uma ideia da imensidão das formações rochosas.

Fécamp
Fécamp

Dá para estacionar na beira da estrada ou em um estacionamento gratuito um pouco mais adiante.

Depois descemos até o Farol de Fécamp, que fica na ponta de um píer e também tem uma bela vista para as falésias.

Farol de Fécamp
Fécamp

Outros programas legais para fazer na cidade são caminhar na passarela à beira-mar, curtir a praia (também de pedrinhas, como Étretat) e visitar o Palais Benedictine, um palácio de arquitetura gótica e renascentista onde, além de uma museu, fica uma importante destilaria de licor Beneditino (o passeio inclui degustação!).

Como já estava ficando tarde e precisávamos passar no supermercado para comprar o café da manhã do dia seguinte (ATENÇÃO: tudo fecha às 19h nessas cidades pequenas), pegamos a estrada de volta para Honfleur, depois de um lindo dia com muitas belezas naturais. 

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