Honfleur: a cidade mais bonita da Normandia

8 de outubro de 2023 0 Por Passagem Comprada

Cidade que escolhi como base para explorar a Normandia, na França, Honfleur me encantou desde o primeiro minuto com seu porto pitoresco, suas casas em estilo normando e suas ruelinhas repletas de lojas e restaurantes simpáticos.

Localizada a 2h30min de Paris, a pequena cidade cresceu como um importante porto comercial, afinal, fica exatamente no local onde o Rio Sena desemboca no mar. Dali partiram grandes expedições marítimas nos séculos XVI e XVII, como a de Samuel de Champlain, que partiu de Honfleur em 1603 rumo às Américas e acabou fundando a cidade de Québec, no Canadá.

Além disso, era famosa pelo comércio de bacalhau, que chegava ao porto após ser pescado no mar em torno de Terra Nova e Labrador. Não é à toa que existem, ainda hoje, os grandes celeiros de sal construídos em 1670, que chegavam a guardar até 10 mil toneladas do mineral usado para conservar o bacalhau. Você pode visitá-los na Rue de la Ville, bem perto do estacionamento.

Sua beleza também não passou despercebida pelos grandes artistas impressionistas, que circularam e muito pela cidade, retratando-a em diversas de suas telas. Eugène Boudin, um dos precursores desse movimento artístico, nasceu em Honfleur, e você pode admirar diversas de suas obras (assim como de outros artistas do século XIX e XX) no Museu Eugène Boudin.

O local mais lindo e emblemático da cidade é o Vieux Bassin, antigo porto, que hoje recebe principalmente veleiros e iates de lazer. Ele tem uma configuração muito interessante, com três lados cercados por ruas e o quarto lado aberto, permitindo a saída para o rio e o mar.

A paisagem mais especial é a formada pelo Quai Sainte-Catherine, do lado oeste, onde se apresenta um verdadeiro paredão de prédios finos, colados lado a lado. Essas construções, todas em estilo normando, datam principalmente dos séculos XVII e XVIII, tendo servido de residência para os comerciantes mais influentes da cidade.

Se você pegar um dia sem vento, terá o prazer de observar essas casinhas refletidas na água do Vieux Bassin, imagem que é o principal cartão postal de Honfleur.

Uma curiosidade é que a maioria das casas tem duas entradas, uma no primeiro andar, pelo lado do Vieux Bassin, e outra no segundo ou terceiro andar, pela Rue des Dauphins ou pela Rue des Logettes. Isso permitia que duas famílias diferentes ocupassem cada casa, sem precisar compartilhar a mesma entrada.

Caminhando pelo Quai Sainte-Catherine, você verá que, hoje em dia, todos esses prédios fininhos são ocupados por bares, creperias e, principalmente, restaurantes especializados em frutos do mar. As calçadas em frente à água são inteiramente cobertas por mesas e cadeiras, onde os visitantes podem degustar todas as especialidades da região (como ostras, mexilhões e peixes) com boas opções de menus a preço fixo, que incluem entrada, prato principal e sobremesa.

Bem em frente ao Vieux Bassin, fica a Lieutenance, antiga casa do governador do Rei da França e único vestígio que restou das muralhas que cercavam a cidade. Ali, com alguma dificuldade, se consegue identificar a Porta de Caen, que servia como entrada à cidade fortificada de Honfleur na Idade Média.

Se você pegar a rua “de trás” das casinhas geminadas (Rue des Logettes), logo avistará a Église Sainte-Catherine, uma das raras igrejas construídas em madeira na França. Do lado externo, chamam a atenção algumas paredes e o teto cobertos de telhas de castanheira.

Mas o que me chamou a atenção foi o interior da igreja: parece um barco virado de cabeça para baixo! E sabe por quê? A cidade de Honfleur era um lugar voltado diretamente para a navegação, então quem construiu a primeira nave da igreja, na segunda metade do século XV, utilizou técnicas navais para fazer o projeto.

Outra curiosidade é o sino, que fica em um campanário logo em frente. Ele não foi colocado em cima da igreja pois a torre atrai raios, especialmente por já se localizar em uma pequena elevação natural, o que poderia colocar em risco os paroquianos que estivessem assistindo às missas.

Na Place Sainte-Catherine, logo ao lado, você vai encontrar alguns restaurantes simpáticos e uma feira de produtores locais todos os sábados pela manhã.

A partir dali, o legal é explorar todas as ruelinhas desse lado do Vieux Bassin sem pressa, curtindo as lojinhas de lembranças, boutiques autorais, galerias de arte, fábricas de biscoitos, confeitarias e muito mais. Recomendo a Rue du Dauphin, Rue du Puits, Rue des Lingots e a Rue de l’Homme de Bois.

Já do outro lado do Vieux Bassin, no Quai Saint-Etienne, você vai encontrar diversos restaurantes, galerias de arte, a Prefeitura de Honfleur (Hôtel de Ville) e o Museu da Marinha, que fica em uma antiga igreja voltada para a água.

Porto de Honfleur — O Museu da Marinha fica naquela igrejinha ali

Recomendo pegar a Rue de la Prison e seguir pela Rue des Petits Bucheries até a Rue de la Ville: garanto que você vai se sentir em um filme! A rua é super estreitinha e cercada de casas enxaimel antiquíssimas!

Na Rue de la Ville não faltam restaurantes e lojinhas, principalmente para comprar e degustar as bebidas de maçã típicas da região, como o Calvados, o Pommeau e a Cidre. É ali também que ficam os celeiros de sal (“Greniers à Sel”) que mencionei no início do texto.

Quase em frente ao maior estacionamento do centro, se afastando do mar, fica o Quartier Saint Léonard, uma área muito bonita e bem conservada para passear com calma, caso você tenha tempo sobrando.

A principal atração do bairro é a Église Saint-Léonard, construída inicialmente em 1186, mas totalmente destruída na Guerra dos Cem Anos. Sua reconstrução ocorreu no início do século XVI em estilo gótico flamboyant, o que pode ser observado principalmente no portal principal. Também chama a atenção a torre do sino, construída em 1760 em forma octogonal, toda decorada na parte superior com baixos-relevos representando instrumentos musicais.

Gostei muito também do jardim da igreja, com um enorme salgueiro-chorão e a antiga lavanderia pública, que hoje funciona apenas para embelezar o local.

Aliás, se você gosta de jardins, pode esticar sua visita até o Jardin Public, bem pertinho do centro, e ao Jardin des Personnalités, que reúne um belo trabalho de paisagismo com diversas esculturas de personagens famosos. Esse último jardim fica logo ao lado de outras duas atrações da cidade que não tive a oportunidade de conhecer: o Naturospace, uma espécie de zoológico coberto voltado especialmente para as borboletas e pássaros tropicais, e a Plage du Butin, a praia de Honfleur.

Apesar de pequena, Honfleur foi uma ótima opção para dormir durante as quatro noites que passei na Normandia! Primeiramente, porque ficava a menos de uma hora da maioria dos lugares que eu pretendia visitar (Rouen, Étretat, Giverny, Deauville e Trouville), garantindo passeios de um dia sempre fáceis e tranquilos.

Em segundo lugar, por ter uma grande quantidade de restaurantes para escolher, quase todos abertos à noite (e alguns até tarde).

E por fim, porque encontrei uma hospedagem muito boa e com ótimo preço, disponível no Airbnb e no site próprio, chamada Lolig, com quartos novinhos, pátio com mesas para fazer piquenique e vagas de estacionamento gratuitas. Ficava um pouco distante do centrinho, mas era o único lugar que reunia quartos no térreo (a maioria dos hotéis não tem elevador) com facilidade para estacionar.

Enfim, Honfleur é uma graça e recomendo muito para todos que forem visitar a Normandia!

Honfleur: a cidade mais bonita da Normandia

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