Monte Saint-Michel: guia completo para sua visita
Um ar quase místico circunda o Monte Saint-Michel. Quem vê de longe pensa: será uma igreja ou um castelo? Está na “terra” ou no meio do mar? Não é de admirar que o lugar atraia tantos curiosos: atualmente, é o terceiro ponto turístico mais visitado da França! Por esse e por outros motivos, conhecer o Monte Saint-Michel exige planejamento, então preparei aqui um post com tudo que você precisa saber para organizar sua viagem para lá.
Nesse artigo, você vai encontrar os seguintes tópicos (clique sobre eles para pular diretamente para lá):
- Um pouco de história
- Onde fica e como chegar ao Monte Saint-Michel
- Como é o acesso ao Monte Saint-Michel
- Meu roteiro de 1 dia no Monte Saint-Michel
- Quando ir ao Monte Saint-Michel: entendendo as maiores marés da Europa
- Conclusão
Um pouco de história
Vamos começar com um pouquinho de história, para você entender tudo que estará vendo e vivendo no Monte Saint-Michel!
Conta a lenda que no ano de 708 o Arcanjo São Miguel apareceu três vezes em sonhos ao bispo de Avranches, Saint-Aubert, e pediu que fosse construído um santuário em seu nome no Mont-Tombe, a ilhota que hoje é conhecida como Monte Saint-Michel. Depois do terceiro sonho, o religioso não teve mais dúvidas e deu início às obras!
Em 966, uma comunidade de monges beneditinos instalou-se no local e mandou construir uma primeira igreja. A partir desse momento, muito peregrinos passaram a visitar o Monte Saint-Michel, o que levou ao desenvolvimento de um vilarejo ao seu redor. Em pouco tempo, a igreja ficou pequena para tantos fiéis, de forma que no século XI quatro criptas e uma grande abadia foram construídas. Já no século XIII começou a construção da chamada “Merveille” (ou “maravilha”): dois prédios de três andares coroados pelo claustro e pelo refeitório dos monges.
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) trouxe a construção de toda uma rede de muralhas e fortificações em torno do Monte Saint-Michel, as quais resistiram durante quase 30 anos a todos os ataques ingleses e fizeram do monte um lugar simbólico da identidade nacional.
Durante a Revolução Francesa, a abadia foi abandonada pelos monges e transformada em prisão de Estado, por onde passaram 14 mil prisioneiros. As fortes marés e a areia movediça tornavam praticamente impossíveis as fugas da chamada “Bastille des Mers”.
Quando a prisão fechou definitivamente suas portas em 1863, a abadia estava completamente dilapidada. Por sorte, mais ou menos nessa época começou a ser valorizado o conceito de patrimônio nacional e, em 1874, a Abadia do Monte Saint-Michel recebeu o título de Monumento Histórico da França, o que deu início a grandes trabalhos de restauração do local.
Os turistas, então, começaram a chegar e, em 1969, voltou a haver uma comunidade de monges beneditinos instalados no Monte Saint-Michel. Desde 2001, esse grupo foi substituído pelas “Fraternités Monastiques de Jérusalem” e hoje o monumento é habitado por pouco mais de uma dezena de monges e freiras.
Para ter uma ideia da importância do Monte Saint-Michel, ele está duplamente inscrito na lista do patrimônio mundial pela UNESCO: primeiro como “Monte Saint-Michel e sua baía” (1979) e depois como parte do Caminho de Santiago de Compostela na França (1998).
Onde fica e como chegar ao Monte Saint-Michel
O Monte Saint-Michel fica na Normandia, bem na fronteira com a Bretanha, no departamento da Mancha. São 350km de carro a partir de Paris, em uma viagem de aproximadamente 4 horas.
Algumas pessoas optam por fazer um bate e volta, mas eu, particularmente, acho muito cansativo. Além disso, o tempo para curtir o Monte Saint-Michel acaba ficando bastante limitado, o que impede de vê-lo em diferentes horários do dia e apreciar as diferenças nas marés.
Como tem muita coisa legal para conhecer na Normandia e na Bretanha, sugiro aproveitar para fazer uma viagem de carro pela região, como eu fiz.
Para quem prefere viajar de transporte público saindo de Paris, a melhor opção é pegar um trem na Gare du Montparnasse com destino a Pontorson e lá, usar os shuttles que vão até os pés do Monte Saint-Michel. A viagem de trem leva 3h50min e os ônibus, que têm os horários coordenados com as chegadas dos trens, demoram mais uns 20 minutos. Os bilhetes custam a partir de 26 € e você pode consultar os horários e comprar nesse site aqui.
Como é o acesso ao Monte Saint-Michel
Primeiramente, é importante destacar que Mont-Saint-Michel é um vilarejo (tem até prefeito!) e, sendo assim, pode ser acessado em qualquer horário do dia ou da noite, gratuitamente e sem a necessidade de ingressos ou reservas.
O Monte Saint-Michel é ligado ao continente por uma ponte-passarela bem alta, construída recentemente para garantir acesso seguro e seco ao local em quase todos os dias do ano. Antigamente havia ali um dique feito com areia que, dependendo da hora e da altura das marés, ficava completamente debaixo d’água.
Os carros também podiam chegar até o monte, mas não foram poucos os casos de visitantes desatentos que esqueceram de prestar atenção aos horários das marés e tiveram seus veículos levados pelo mar.
Para evitar tudo isso, após a construção dessa passarela, passou a ser proibido chegar de carro até o Mont-Saint-Michel, havendo grandes estacionamentos na entrada da cidade (ainda no continente) de onde partem ônibus gratuitos até o monte.
O valor do estacionamento pode variar de 8€ a 25€ conforme o tempo de permanência e se a viagem for em alta ou baixa estação. Nesse site aqui você encontra uma tabela com os preços atualizados.
Os ônibus gratuitos, apelidados de “Le Passeur” rodam até tarde (na alta temporada, até 1h00 da manhã!) com uma ótima frequência (algo entre 5 e 20 minutos, dependendo do horário). Partem do estacionamento e fazem mais duas paradas na área de “La Caserne” (onde ficam hotéis, restaurantes e a barragem) antes de chegar ao Monte Saint-Michel. O percurso total dura 12 minutos.
E fora dos horários normais do ônibus (durante a madrugada), ainda é possível chamá-lo pelo telefone 02 14 13 20 15. Uma beleza!
Quem se hospeda nos hotéis que ficam na área de “La Caserne” ou dentro do Mont-Saint-Michel recebe um código especial para ingressar em estacionamentos específicos e pagar uma tarifa reduzida.
Eu fiquei no Hotel Gabriel, na “La Caserne”, e pude deixar o carro na frente do hotel. Do outro lado da rua havia uma loja de souvenirs e conveniências bem grande e uma parada do ônibus, então achei uma ótima escolha!
Meu roteiro de 1 dia no Monte Saint-Michel
Vou contar detalhadamente sobre o dia que passei no Monte Saint-Michel, porque é um lugar tão interessante, e que muda tanto com o passar das horas, que sinto que é a melhor maneira de dar uma visão mais precisa sobre o passeio (as fotos vão mostrar as mudanças nas marés e na luminosidade ao longo do dia).
Cheguei lá às 11h, larguei o carro e em seguida já passou o ônibus para nos levar até os pés do Monte Saint-Michel. Nesse horário ele estava bem cheio, mas como a viagem é bem rapidinha não chegou a incomodar.
O ônibus para ainda sobre a passarela, a uma certa distância da entrada, o que é um verdadeiro presente, pois a visão que se tem dali para o monte é espetacular.
É até difícil sair do lugar, pois é tudo tão lindo que a gente não consegue parar de fotografar e admirar a paisagem. Não há fotos suficientes nesse mundo para registrar toda a beleza que a gente vê!
Quando eu cheguei, a maré estava baixando, de forma que um grande banco de areia começava a aparecer ao redor da ilha.
Na hora de ingressar no monte, é possível pegar a entrada principal, bem em frente, ou escolher a “Entrée des Fanils”, à esquerda, caso queira um caminho mais exclusivo.
Como não achei a rua principal tão lotada, decidi seguir por ela.
Grande Rue: a principal do Monte Saint-Michel
Logo após a entrada já encontramos o hotel e restaurante La Mère Poulard, o mais tradicional do Monte Saint-Michel. Ali são feitos os famosos omeletes gigantes da Mère Poulard, exatamente com a mesma técnica usada em 1888 (mas já aviso que custam mais de 40€!). Caso você tenha o desejo de se hospedar dentro da ilha e não pretenda subir absolutamente nenhuma ladeira ou escada com a sua mala (além das que ficam dentro do próprio hotel), esse lugar me pareceu ser a melhor escolha.
De qualquer forma, não recomendo levar mais do que uma malinha de mão para dentro do monte, porque, quando pesquisei, não encontrei nenhum hotel com elevador.
Depois desse hotel/restaurante preste atenção para a ponte levadiça que você vai cruzar na entrada do vilarejo. Quer símbolo mais medieval que esse? É como visitar um castelo!!!
A partir dali, você ainda pode escolher entre subir a montanha por escadas e caminhos alternativos, pela muralha ou pela Grande Rue, que é a rua principal, onde fica todo o comércio e os restaurantes.
Dizem que essa rua fica praticamente intransitável entre 11h e 15h na alta temporada. Eu fui em junho e estava movimentada, mas não chegava a ser desagradável.
A Grande Rue é muito bonitinha, com plaquinhas tradicionais penduradas em frente aos estabelecimentos comerciais, muitas lojas de lembrancinhas e produtos regionais, restaurantes, hotéis e lanchonetes.
Ela é uma subida constante, então é bom fazer o trajeto com calma, olhando vitrines, tirando fotos e curtindo o ambiente.
Igreja Paroquial Saint-Pierre
No meio do caminho, faça uma pardinha na Igreja Paroquial Saint-Pierre, construída nos séculos XV e XVI e dedicada a São Pedro que, segundo a religião católica, é o detentor das chaves do paraíso. O simbolismo disso é que todos os peregrinos que chegam ao Monte Saint-Michel passam primeiro pela Igreja Saint-Pierre (“para pegar as chaves”) antes de chegar à Abadia propriamente dita (que seria a imagem do paraíso na Terra).
Apesar de ser dedicada a São Pedro, a igreja é atualmente o local oficial de devoção a São Miguel Arcanjo, o que se percebe logo na entrada ao observar a estátua de Joana d’Arc, que foi guiada pelo arcanjo durante a Guerra dos Cem Anos. Lá dentro também chama a atenção um altar dedicado a ele.
Do outro lado da Igreja fica o cemitério do vilarejo, de onde se tem uma bonita vista da abadia no topo da ilha.
Visita à Abadia do Monte Saint-Michel
A partir dali são só mais alguns minutos de subida até a entrada da Abadia do Monte Saint-Michel. Se já estiver cansado, sugiro dar uma paradinha para respirar, pois o próximo trecho é de escadas.
Há duas entradas na abadia, uma para grupos e para quem já tem ingresso comprado antecipadamente e outra para quem precisa passar na bilheteria (que pode ter fila).
Os ingressos da Abadia do Monte Saint-Michel custam 11€ para adultos, sendo gratuitos para menores de 18 anos. Nesse site aqui, você encontra todas as informações atualizadas, como preços, descontos, horários, etc.
Quem compra os bilhetes pela internet pode escolher entre fazer o passeio pela manhã (entrada entre 9h30 e 12h30) ou à tarde (entrada entre 14h e 17h), o que eu achei ótimo, porque odeio ter horários muito rígidos para chegar em atrações turísticas (tantas coisas legais podem surgir repentinamente em uma viagem e atrasar um pouquinho nossos planos!).
A visita pode ser feita de 3 maneiras diferentes:
- com o auxílio de um folheto disponível na entrada (opção em português);
- em um tour guiado em francês ou inglês que já está incluso no ingresso (o tour dura 45 minutos e é necessário reservar antecipadamente pela internet);
- com audioguia, que custa 3€ e também pode ser programado para funcionar em português.
Após a entrada, prepare-se para subir a escadaria do Grand Degré, parte mais desafiadora da visita para quem não tem muito preparo físico. Se você entender francês, pode fazer várias pausas na subida para ler as placas informativas que contam diversas curiosidades históricas da abadia.
No fim da escada, o terraço do Saut-Gaultier garante um belo momento de descanso acompanhado de vistas bem interessantes da baía e do continente. Dali é possível observar a ponte-passarela por onde passam os ônibus gratuitos que vêm do estacionamento, a foz do Rio Couesnon e a barragem do Mont-Saint-Michel.
Mas o melhor mirante ainda está por vir!
A visita continua pelo Terraço Oeste, que fica em frente à fachada da abadia (reconstruída em 1780 após um grande incêndio). Essa área bem ampla, cercada por muros de pedra que lembram uma fortaleza, oferece aos visitantes uma vista panorâmica de toda a Baía do Monte Saint-Michel.
Em dias claros, é possível enxergar o rochedo de Cancale, na Bretanha, as falésias da Normandia e o arquipélago das Ilhas Chausey, de onde foi extraído o granito usado na construção da abadia. Também é um dos melhores lugares para observar e fotografar a flecha neogótica sobre a torre da igreja, no topo da qual fica a estátua dourada de São Miguel Arcanjo.
Quando cansamos de observar a paisagem, é hora de ingressar efetivamente na impressionante abadia construída no topo do rochedo, a 80 metros acima do nível do mar, sobre uma plataforma de 80 metros de comprimento.
É difícil de acreditar que, em plena Idade Média, os “engenheiros” conseguiram planejar uma construção que envolvia completamente a rocha granítica piramidal, e tudo isso fazendo uso de um sistema de criptas, que criaram uma plataforma capaz de suportar o peso da igreja.
O interior da abadia é de deixar qualquer um de queixo caído, especialmente em razão de sua altura!
A abóbada toda revestida de madeira, as enormes arcadas e as tribunas localizadas abaixo das janelas formam o conjunto arquitetônico da igreja.
Apesar de não ser um templo muito decorado com estátuas ou afrescos, há alguns itens expostos lá dentro que chamam muita atenção, especialmente os baixos-relevos localizados em algumas paredes da abadia e o “tesouro” de São Miguel, composto por coroa, colares, espada e escudo, tudo em ouro e pedras preciosas. Esses objetos foram, em sua maioria, elaborados para um evento de coroação do santo que ocorreu em 1877, em um momento de grande devoção da população. São réplicas, mas impressionam da mesma forma!
Saindo da igreja, passamos pelo lindo claustro, localizado na parte superior do edifício chamado de “A Maravilha”, construído no século XIII para receber diversas atividades dos monges. Esse prédio inclui também a despensa, o refeitório, a Sala dos Cavaleiros (para estudo e trabalho) e a esmolaria, onde eram recebidos os pobres e peregrinos.
Conforme vamos descendo, passamos por enormes criptas com colunas extremamente fortes (construídas para sustentar a abadia), capelas e todas as salas da “Maravilha”.
É como explorar um castelo medieval, com túneis gelados, paredes grossas, escadarias de pedra e janelinhas que parecem saídas de uma prisão. Esqueci diversas vezes que estava dentro de um monastério!
A visita termina, é claro, em uma grande loja de souvenirs, com todos os produtos que você possa imaginar relacionados ao Monte Saint-Michel.
Agora, por incrível que pareça, as fotos mais lindas que tirei da baía foram na saída da abadia! Há um jardinzinho e um grande muro de pedras que, na primavera, estava cercado de flores. O céu ficou azul e a paisagem se tornou algo de outro mundo!
O céu e as nuvens refletiam nos pequenos alagados que sobraram em volta da ilha e, em certos momentos, ficava difícil distinguir entre terra e ar. Sensacional!
Tour du Nord e a travessia da baía
A saída da abadia é quase em frente à Tour du Nord, umas das torres de vigilância da muralha que circunda o Monte Saint-Michel. Ali também é um famoso mirante, com vista para a ilhota de Tombelaine e para uma boa parte da baía.
Na hora que eu fui, a maré já estava bem baixa, então muitos grupos partiam para suas expedições “dentro do mar”: é possível fazer longas caminhadas, acompanhadas de guia especializado, para ver o Monte Saint-Michel de diferentes ângulos e explorar a pequena ilha de Tombelaine.
Alguns trajetos são mais longos, outros mais curtos, mas todos eles podem ser perigosos em razão das áreas de areia movediça e da possibilidade de a maré subir, por isso há diversos avisos para não se aventurar pela área em torno do monte sem guia. Como dá para ver na foto abaixo, é melhor ir com roupas curtas, pois algumas partes do trajeto podem envolver água até as coxas!
Se quiser fazer algum desses passeios, é bom reservar antecipadamente pela internet ou de manhã cedo no Escritório de Turismo que fica logo na entrada do Monte Saint-Michel.
As muralhas do Monte Saint-Michel
A Tour du Nord é um ótimo local para iniciar uma exploração das muralhas do vilarejo, que percorrem todo o lado leste, descendo até a entrada principal do Monte Saint-Michel.
É um passeio muito legal, cheio de paisagens interessantes que podem ser observadas por cima dos muros ou entre pequenos vãos construídos para vigilância dos inimigos.
Quando eu fui, adorei observar os bancos de areia em meio a partes alagadas, pessoas caminhando nos arredores da ilha, crianças brincando nas águas rasas e, mais uma vez, aquele horizonte que se confundia entre céu e mar. Lembrando que o panorama muda completamente conforme o horário do dia, em razão das marés!
Também é o lugar perfeito para descobrir ângulos diferenciados do vilarejo medieval: casas de pedra, janelas floridas e jardins escondidos são alguns dos presentes que recebi caminhando pelas muralhas.
A grande agulha no topo da abadia, com a estátua de bronze dourado de São Miguel Arcanjo, aparece constantemente entre os telhados das casas, garantindo ótimas fotos.
A fome começou a bater forte, então entramos em um restaurante chamado Les Terrasses de la Baie para almoçar e descansar um pouco. O lugar era legal, com vista para o mar, mas não gostamos muito da comida não…
De volta à entrada do Monte Saint-Michel, com a maré mais baixa do dia, resolvemos andar um pouquinho na areia bem em frente à ilha, onde havia bastante gente e era seguro, para tirar umas fotos com reflexo nas poças d’água.
Achei divertido pisar em uma área que algumas horas antes estava no fundo do mar: tem conchinhas no chão e a areia é meio molenga (mas nessa parte não chegava a ser movediça). Fizemos isso de tênis inclusive.
Passeio nos arredores do Monte Saint-Michel
Como queríamos ter a experiência de passear no Monte Saint-Michel ao anoitecer, quando a maioria dos turistas já deixou a ilha, e, nesse dia, o pôr do sol seria apenas às 22h30, decidimos voltar ao hotel para pegar o carro e dar uma volta pelas cidades vizinhas.
Primeiro, fizemos uma paradinha na Maison Pèlerin, em Beauvoir, uma enorme loja de produtos típicos da região, com destaque para os caramelos salgados artesanais. Ali, é possível comprar os caramelos à granel, de diversos sabores, com degustação livre de tudo.
Nessa cidade tem vários restaurantes, lojas de souvenir e produtos artesanais da Normandia, como o licor Calvados, cidra, biscoitos e outras especialidades. É certamente uma opção mais em conta para jantar depois de uma visita ao Monte Saint-Michel.
Também olhamos o Antigo Moinho de Moidrey, construído em 1806 e ainda em funcionamento nos dias de hoje (após trabalhos de restauração, é claro). Ele fica em cima de uma colina, na cidade de Pontorson, a 10 minutos do Monte Saint-Michel, e pode ser visto da própria estrada.
O moinho de vento é muito bonitinho e se encaixa perfeitamente na paisagem bucólica dos campos verdinhos que o cercam. Ah, e para ter uma ideia da sua importância: o Moinho de Moidrey foi considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, junto com o Monte Saint-Michel!
Ele também é aberto para visitação por um valor bem baixinho (algo em torno de 3€).
A cidade de Pontorson é maiorzinha, com vários hotéis, supermercado e estação de trem, sendo escolhida por alguns visitantes como local de hospedagem nas proximidades do Monte Saint-Michel. Há inclusive um ônibus de linha que parte da estação de trem de Pontorson e vai até os pés do monte em aproximadamente 20 minutos.
Dali, fiz apenas mais uma parada, no Menhir de Champ-Dolent. Pode parecer meio doido viajar quase 30 minutos para ver uma pedra, mas estava com companheiras de viagem que se interessam muito por esse tipo de coisa, então fomos lá checar!
Se você não sabe, o menhir é um monumento pré-histórico de pedra, normalmente alto, que é fixado verticalmente no solo. É algo típico da cultura bretã (quem lembra que Obelix estava sempre carregando um menhir nas histórias em quadrinhos?) e que tem diversos significados místicos e pagãos.
O Menhir de Champ-Dolent tem mais de 9 metros de altura e fica em uma pequena área de piquenique no meio de plantações de milho. Há quem diga que ele tem um campo energético muito forte capaz de curar dores nas costas de quem o abraçar.
Nossa parada no menhir demorou menos de 10 minutos e logo já estávamos novamente a caminho do hotel para nos preparar para a noite.
Barragem do Monte Saint-Michel
Já com o sol baixo, caminhei até a Barragem do Monte Saint-Michel, que fica pouco antes do início da ponte-passarela, bem pertinho dos hotéis de La Caserne. Esse é um dos lugares mais lindos para observar e fotografar a ilha, razão pela qual diversos fotógrafos ficam instalados ali esperando os melhores efeitos de luz.
Um conjunto de arquibancadas garante o conforto da “plateia” que se reúne para observar a paisagem de cinema!
Passeio noturno no Monte Saint-Michel
Como o tempo estava agradável e a maré já bem alta, decidi caminhar até o Monte Saint-Michel pela ponte-passarela, admirando impressionada a mudança da paisagem (agora, às 21h30, a água cobria toda a volta da ilha, deixando apenas um pequeno banco de areia perto da entrada). É um passeio de pouco mais de 20 minutos partindo da barragem e eu recomendo para quem gostar de caminhadas.
Ao longe, consegui ver também algumas das ovelhas que pastam nos alagados da baía do Monte Saint-Michel e são famosas pela sua carne de sabor peculiar. Elas são chamadas de “moutons de prés-salés” (ovelhas de prados salgados), porque se alimentam de uma vegetação que é coberta de água do mar nos momentos das grandes marés.
Chegando na ilha, fui explorar um pouco o lado oeste, pela entrada des Fanils. Ali fica a Tour Gabriel, construída em 1524 para proteger este flanco do Monte Saint-Michel. Ela também passou a servir ao longo dos anos como farol para os barcos que se dirigiam ao Rio Couesnon.
Passando a porta à direita da torre, cheguei ao antigo embarcadero, local em que é possível observar de pertinho o mar que circunda a ilha (nesse horário, com a maré bem alta).
Depois, fui dar um passeio nas ruas desertas do Monte Saint-Michel.
A Grande Rue estava super bonita, com alguns “lampiões” acesos e poucas pessoas circulando. Uns três restaurantes ainda funcionavam, mas já se encaminhando para fechar perto das 22 horas.
As muralhas estavam às moscas! Fiquei até com medo de andar por lá sozinha! Só encontrei algumas gaivotas e um gato pelo caminho.
Confesso que fiquei feliz de não ter me hospedado lá dentro… achei o vilarejo muito fantasmagórico ao anoitecer (mas muita gente acha esse o momento mais legal para estar no Monte Saint-Michel, então fique à vontade para discordar de mim).
Voltei à ponte-passarela para ver a ilha iluminada, como em algumas fotos que encontrei na internet, mas a luz nunca acendeu. Falei com o Centre des Monuments Nationaux, que administra a abadia, e fui informada que essas imagens já não são realidade: o Monte Saint-Michel não recebe iluminação por motivos de economia de energia e por se situar em uma baía rica em fauna e flora, que seria prejudicada com essas luzes artificiais noturnas.
O que existe é um evento de projeções especiais que acontece no interior da abadia nos meses de julho e agosto, chamado “Les Noctures de l’Abbaye”. Pelas fotos, parece bem bonito!
Bom, satisfeita com o meu passeio noturno na ilha, peguei o ônibus até La Caserne e dei mais uma passadinha na barragem para olhar o Monte Saint-Michel à noite. A paisagem estava espetacular, com o céu ainda um pouco claro e aquela montanha de formato peculiar no meio do mar!
Aliás, não sei se em algum horário do dia o Monte Saint-Michel consegue ficar feio… Eu achei tudo sempre meio encantado!
Quando ir ao Monte Saint-Michel: entendendo as maiores marés da Europa
Os dias mais interessantes para visitar o Monte Saint-Michel são aqueles em que há maior variação nas marés, para que se possa observar a paisagem em volta da ilha mudar completamente ao longo das horas.
Isso ocorre em períodos de lua cheia e lua nova, mas em alguns meses tem mais intensidade do que em outros, o que pode ser verificado pelo coeficiente das marés em cada dia.
Para ver as marés mais altas da Europa, que podem chegar a 15 metros de diferença entre a alta e a baixa, é necessário visitar o Monte Saint-Michel quando o coeficiente estiver acima de 100. Apenas nesses dias (que são poucos ao longo do ano) é que a água chega até as muralhas do vilarejo, cobre uma parte da passarela e transforma ele verdadeiramente em uma ilha.
É nessas ocasiões também, especialmente quando o coeficiente fica acima de 110, que ocorre o chamado “mascaret”, uma grande onda que vem do mar em direção aos rios da região na hora da “cheia”m parecendo um “cavalo galopante”, como dizem os locais. Essa onda é tão forte que alguns aventureiros até aproveitam para “surfar” de caiaque sobre ela.
Caso não tenha um coeficiente assim tão alto na época da sua viagem, tente pelo menos escolher o dia com a maior variação possível, para conseguir observar a baía seca e coberta de água ao longo do dia. Eu viajei em junho, mês em que não haveria nenhuma maré acima de 100, mas consegui visitar o Monte Saint-Michel em um dia de coeficiente 74. Achei bem satisfatório, pois, enquanto à tarde era possível caminhar pela baía, à noite ela estava coberta por água.
Para se organizar com relação aos horários de maré alta ou baixa, é bom consultar a tábua de marés para o dia da sua visita.
Fora a questão das marés, os outros fatores para levar em consideração na escolha da data da viagem são o tempo e a quantidade de turistas.
Essa região da França é bem gelada e ventosa, famosa também pela quantidade de chuva, de forma que o inverno (de dezembro a março) pode ser bastante desagradável por lá. Mas claro que se o seu objetivo for visitar o Monte livre de turistas, pode ter certeza que essa é a época certa.
Já o verão é o período mais gostoso para fazer o passeio, pois mesmo à noite não será necessário mais do que um casaquinho (a não ser que chova e vente, aí é bom ter algo mais quentinho). O único problema dessa época, principalmente julho e agosto, é a quantidade de visitantes, que pode deixar as ruas do vilarejo completamente congestionadas.
Eu gostei bastante de viajar no final da primavera: havia bastante gente, mas nada insuportável, e a temperatura estava ótima (quando o sol aparecia, ficava de manga curta e quando nublava, bastava um casaco leve). Imagino que o início do outono seja semelhante.
Conclusão
O Monte Saint-Michel é definitivamente um dos lugares mais lindos da França! Fiquei absolutamente encantada com essa mistura de natureza – rochas, mar, ilhas, mudança de marés – com o trabalho e a fé humanos. Recomendo muito o passeio!
* Os ingressos para a Abadia do Monte Saint-Michel foram oferecidos pelo Centre des Monuments Nationaux, mas todo o relato aqui apresentado traz as nossas impressões reais de viajantes sobre a experiência no local *
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Ola adorei seu relato muito detalhado. Vou para o Mont Saint Michel em final de Setembro e gostaria de visitar a noite. So agora que entendi que o ticket que compramos é para a Abadia. e que podemos ir e vir na “Vila”. Ja fui ha milhares de ano e gostaria agora de ir a note. Esta barragem deve ser bem legal tb, Vou de carro e ficaremos em Portoson. Vcs deixaram o carro no estacionamento ou no Hotel?? Obrigada mesmo pelo Relato.
Oi, Lucia! Isso mesmo, o acesso à cidadezinha é livre e gratuito! O ingresso é só para visitar a abadia. Nós deixamos o carro no hotel, que ficava dentro da área chamada “La Caserne” (onde fica o estacionamento do Mont Saint Michel). Usamos o mesmo ônibus gratuito que vem do estacionamento para ir até o vilarejo. Caso você opte por deixar o carro em Pontorson, tem um ônibus que leva diretamente aos pés do monte, cujo bilhete custa 3,10€ o trecho.
Obrigada. vou avaliar esta possibilidade tb.
Consumo muito material (blogs, vídeos, paginas de turismo, etc) para planejar minhas viagens, mas em todos esses anos consumindo material, nunca tinha me deparado com um conteúdo tão completo, tão detalhado e tão delicioso de ser lido.
Vim apenas agradecer por ele e parabenizar pelo trabalho.
Puxa, Felipe! Muito obrigada pelo comentário! São palavras assim que me fazem continuar escrevendo. Um abração!
Olá!
Tudo bem?
Obrigada por toda a descrição.
Irei para o Mont chegando em Pontorson. Só estava preocupada em como pegar o onibus para chegar de fato no Mont Saint Michel. Esse onibus que você mencinou é pago? Sai toda hora da estação? Chegando lá é facil encontrar o ponto desse ônibus?
Muito obrigada!
Oi, Maria!
O ônibus sai da estação de trem, então imagino que seja fácil encontrar a parada (isso sem falar que a maioria das pessoas que descer do trem deve ir pegar o mesmo ônibus que você). Eu não usei o ônibus, porque fui de carro, então não consigo te dar detalhes sobre a localização exata.
A tarifa do ônibus é 3,10€, mas dependendo da passagem de trem que você comprar, pode estar incluído.
Nesse link aqui tem os horários do ônibus até outubro/2024: https://www.ot-montsaintmichel.com/wp-content/uploads/2024/04/BUS_Pontorson-MontSaintMichel_avril-octobre-2024.pdf
Qualquer dúvida, fico à disposição!
Muito boa sua descrição. Saint Michel é, sem dúvida, um local encantador. Gostaria de saber sobre as estradas nessa região. Há pedágios? são perigosas? o tráfego é intenso? ou utilizando-se somente do trem é suficiente?
Oi, Celio! Eu achei as estradas bem tranquilas para transitar entre as cidades da Bretanha e da Normandia. Não peguei tráfego muito intenso, não. Dependendo do trajeto que fizer, talvez passe por alguma autoestrada (pode haver pedágios). Se quiser conhecer as cidadezinhas da região, é melhor ter um carro, pois o trem não chega em todas elas. Se vier apenas de Paris até o Mont-Saint-Michel, é possível usar o trem e mais um curto trajeto de ônibus no final.