Castelo de Chenonceau: dicas para a sua visita

Castelo de Chenonceau: dicas para a sua visita

27 de março de 2020 0 Por Passagem Comprada

Obra de arte do Renascimento, o Castelo de Chenonceau é o mais visitado do Vale do Loire, não apenas em razão da sua arquitetura exterior singular – parte dele foi construída sobre uma ponte que atravessa o Rio Cher – mas também pelo fato de ser totalmente mobiliado com tapeçarias, quadros, esculturas e outro tantos objetos que realmente fizeram parte da história do castelo.

Chenonceau

O “Castelo das Damas” – um pouquinho de história

A construção do edifício atual do Château de Chenonceau iniciou-se em 1515, aos cuidados de Thomas Bohier – Controlador Geral das Finanças do rei Francisco I – e de sua esposa, Katherine Briçonnet, vista como a verdadeira mestre de obras do castelo original. Katherine foi a primeira mulher a ter grande influência no embelezamento e na história de Chenonceau, que hoje em dia é conhecido como o “Castelo das Damas”, em razão das sete célebres mulheres que ali habitaram ao longo dos anos.

Em 1547, quando já passara à propriedade do rei Henrique II, este deu o castelo de presente à sua amante favorita, Diane de Poitiers, que se mudou para lá e fez algumas obras para deixá-lo ao seu gosto. Mandou construir um belíssimo jardim (entre os mais espetaculares da época) e a famosa ponte sobre o rio Cher, dando a Chenonceau a forma que o deixou conhecido no mundo todo.

DIane de Poitiers
Quadro retratando Diane de Poitiers, localizado no Salão François I do Castelo de Chenonceau

Ocorre que a esposa de Henrique II, Catarina de Médicis, nunca gostou muito dessa história de Diane ser a favorita, então, após a morte do rei, tirou Diane do castelo (obrigando-a a se mudar para o Château de Chaumont-sur-Loire) e passou ela mesma a administrar a propriedade. Como regente da França, tinha muito dinheiro à sua disposição, de forma que tornou os jardins ainda mais maravilhosos e mandou construir uma galeria de dois andares sobre a ponte do rio Cher, onde eram realizados grandes bailes para a realeza e a nobreza.

Chenonceau Catarina de Medicis
Retrato de Catarina de Médicis, localizado em um dos cômodos de Chenonceau

Com a morte de Catarina, o palácio passou para a sua nora, Louise de Lorraine, esposa de Henrique III, que, ao se tornar viúva em 1589, exilou-se no castelo para viver em luto pelo resto de seus dias. Nesse período, Chenonceu deixou de acolher as grandiosas festas que habitualmente ocorriam em seus salões e se despediu de vez dos membros da realeza (Louise de Lorraine foi a última representante real a habitar o castelo).

Após passar pelas mãos de diversos nobres, que o dilapidaram e abandonaram, o Château de Chenonceu foi vendido, no século XVIII, a um proprietário rural chamado Claude Dauphine, cuja esposa, Louise Dupin, trouxe o castelo de volta à vida. Organizou diversos saraus, que eram frequentados pelos grandes nomes do Iluminismo francês, como Montesquieu, Voltaire e Rousseau.

Em 1864, a nova proprietária, Marguerite Pelouze, originária da burguesia industrial, gastou uma verdadeira fortuna para restaurar o castelo à imagem do que era na época de Diane de Poitiers. Nós, visitantes, agradecemos imensamente!

Por fim, em 1913, a família Menier, famosa fabricante de chocolates, comprou o palácio, mantendo a sua posse até hoje. Durante a Primeira Guerra Mundial, Simonne Menier, enfermeira chefe, organizou a instalação de um hospital nas galerias sobre a ponte, e administrou o local, que acolheu mais de 2 mil feridos até 1918.

Chenonceau Hospital Militar
Reprodução do Hospital Militar que funcionou no castelo entre 1914 e 1918

E essas foram as principais mulheres que deixaram sua marca no Castelo de Chenonceau!

Contei toda essa história porque, para mim, o fascínio de visitar um castelo decorre em grande parte de poder imaginá-lo em pleno funcionamento, do jeitinho que era há vários séculos e, para isso, é sempre bom conhecer um pouquinho sobre os acontecimentos e personalidades que ele abrigou.

Algumas informações práticas

Diferentemente do Château de Chambord, não é possível nem mesmo caminhar nas áreas externas de Chenonceau sem pagar ingresso. O estacionamento – gratuito – fica logo na entrada da propriedade, sendo que dali em diante só segue quem tiver comprado o bilhete.

Chenonceau jardim diana3

Os valores (atualizados em 2020) são os seguintes:

  • Adultos: 15.00 € com folheto explicativo ou 19.00 € com áudio-guia
  • Estudantes de 18 a 27 anos (mediante apresentação do cartão da UE): 12.00 € com folheto explicativo ou 15.50 € com áudio-guia
  • Crianças (de 7 a 18 anos): 12.00 € com folheto explicativo ou 15.50 € com áudio-guia
  • Crianças (com menos de 7 anos): gratuito, inclusive com áudio-guia

Você pode comprar os ingressos online ou na bilheteria (nesse último caso, sugiro que procure evitar finais de semana de verão para não pegar filas muito grandes).

Os horários de abertura e fechamento variam conforme a estação do ano, então é melhor verificar no site oficial quando for visitar. Ah, e tem bastante coisa para ver dentro da propriedade (como você poderá perceber logo abaixo), então tente reservar no mínimo 2 horas para o seu passeio.

O que ver no Castelo de Chenonceau

Passada a portaria, você fará uma caminhadinha de uns 10 minutos por uma grande alameda cercada por árvores enormes, que fornecem uma sombra agradável nos dias quentes.

Chenonceau chegada

Sugiro fazer um rápido desvio à esquerda, seguindo a placa indicativa, para conhecer o labirinto italiano construído a mando de Catarina de Médicis. As crianças (e mesmo os adultos) vão gostar do desafio de procurar o centro por entre os caminhos delimitados por 2 mil árvores de teixo.

Chenonceau labirinto

Chegando em frente ao castelo, logo avistará à esquerda o Jardim de Diane de Poitiers, formado por grandes triângulos de gramados delimitados por belos canteiros de flores e arbustos perfeitamente desenhados com técnicas de topiaria, tudo convergindo em direção a um chafariz da época de Diane.

Chenonceau jardim diana
Jardim de Chenonceau

O jardim é protegido das cheias do rio Cher por terraços elevados e muretas, de onde se tem uma linda vista dos arcos de Chenonceau. Em um dos lados do jardim, fica a Chancelaria, antiga residência do intendente de Catarina de Médicis.

Castelo de Chenonceau
Chancelaria
Chancelaria

Em frente à entrada do château, observa-se a chamada “Torre dos Marques” única parte da construção preservada da época medieval ( século XIII), quando a propriedade pertencia à família Marques.

Torre dos Marques
Torre dos Marques

No térreo do castelo, logo na entrada, ficam a Sala de Guarda, cômodo que era reservado aos militares encarregados da proteção dos monarcas, todo decorado com tapeçarias de Flandres do século XVI, e a Capela, com algumas esculturas e quadros de pintores célebres.

Chenonceau capela

Continuando nesse andar, você vai encontrar o Quarto de Diane de Poitiers, majestosamente restaurado por ordem de Marguerite Pelouze, com belas tapeçarias do século XVI, móveis em estilo renascentista e obras de arte de Sauvage, Ribalta e Murillo. Interessante observar as molduras dos painéis de madeira que recobrem o teto, nas quais aparecem as iniciais de Henrique II e Catarina de Médicis entrelaçadas, formando, talvez propositalmente, a letra “D” de Diane de Poitiers.

Quarto Diane de Poitiers
Quarto de Diane de Poitiers
Quarto Diane de Poitiers
Observe o “C” e o “H” entrelaçados nos cantinhos do teto de madeira, formando, coincidentemente ou não, dois “Ds”

Na sequência, passa-se pelo Gabinete Verde, onde trabalhava Catarina de Médicis durante seu período como regente do reino após a morte de Henrique II, e pela Biblioteca, ambas as salas repletas de obras de arte originais.

Chenonceau Gabinete Verde
Gabinete Verde

No fundo do castelo, chega-se à Galeria construída por Catarina de Médicis sobre a ponte do rio Cher. A galeria possui 60m de comprimento por 6m de largura, é iluminada por 18 janelas e conta, em cada extremidade, com uma lareira da Renascença. O local foi inaugurado em 1577 e passou a ser usado como salão de baile, recebendo suntuosas festas em homenagem ao rei Henrique III (filho de Catarina).

Chenonceau galeria
Château de Chenonceau

Logo na saída da galeria, há uma escada que leva ao subsolo, onde ficava a cozinha do castelo. Achei bem legal observar a copa, onde os criados faziam suas refeições, a enorme lareira do século XVI, que é a maior da propriedade, o forno de assar pão e o açougue, com os ganchos de pendurar a carne e as facas dispostas na parede.

Chenonceau cozinha
Forno de pão
Chenonceau cozinha
Açougue
Chenonceau cozinha
Copa

Ainda no térreo, ficam o Salão François I, com uma das mais belas lareiras da Renascença e diversos quadros dos séculos XVI e XVII, e o Salão Luís XIV, com retrato do rei e móveis revestidos de tapeçaria de Aubusson, tudo doado pelo próprio Luís XIV como recordação da visita que fez a Chenonceau em 14 de julho de 1650. Merece destaque nesse cômodo, também, a rica coleção de pinturas dos séculos XVII e XVIII.

Chenonceau Salão Françõis I
Salão François I
Salão Luís XIV
Salão Luís XIV

Subindo para o primeiro andar, chega-se ao vestíbulo de Katherine Briçonnet, coberto por uma série de seis tapeçarias de Audenarde do século XVII e com uma vista espetacular da Torre dos Marques e dos jardins a partir de sua sacada.

Torre dos Marques e Jardim de Catarina vistos do Vestibulo de Katherine Briçonnet
Torre dos Marques e Jardim de Catarina vistos do Vestíbulo de Katherine Briçonnet
Jardim de Diane de Poitiers visto do Vestibulo de Katherine Briçonnet
Jardim de Diane de Poitiers visto do Vestíbulo de Katherine Briçonnet

Nesse andar, encontramos, primeiramente, o Quarto das Cinco Rainhas, em referência às duas filhas e três noras de Catarina de Médicis, e o quarto da própria Catarina, ricamente decorado com teto de madeira todo pintado em dourado, mostrando o brasão dos Médicis e as iniciais “C” e “H” entrelaçadas. As paredes são cobertas de tapeçarias de Flandres do século XVI, e a mobília é toda em estilo Renascentista.

Quarto das Cinco Rainhas
Quarto das Cinco Rainhas
Chenonceau Quarto Catarina de Médicis
Quarto de Catarina de Médicis
Chenonceau Quarto Catarina de Médicis
Teto do Quarto de Catarina de Médicis

Passa-se ainda pelo Gabinete das Estampas, onde há uma coleção de desenhos, gravuras e pinturas retratando o castelo em diversos períodos, e pela Galeria Médicis, localizada sobre a ponte, que é um verdadeiro museu sobre a construção de Chenonceau.

Gabinete das estampas
Gabinete das Estampas
Chenonceau Galeria Medicis
Galeria Médicis

Em seguida, chama a atenção o grandioso Quarto de César de Vendôme, filho do rei Henrique IV e de Gabrielle d’Estrées, proprietário de Chenonceau a partir de 1624. Tudo no cômodo é muito pomposo, desde a cama com baldaquino vermelho e o teto dourado com vigas aparentes, até a lareira em estilo renascentista e a moldura da janela, com duas cariátides de madeira do século XVII.

Chenonceau Quarto de César de Vendôme
Quarto de César de Vendôme

Logo ao lado, com decoração bastante semelhante, fica o Quarto de Gabrielle d’Estrées, grande amor do rei Henrique IV. O destaque aqui vai para uma rara série de tapeçarias de Bruxelas do século XVII, conhecida como “Os Meses de Lucas”.

Chenonceau Quarto Gabrielle D'Estrées
Quarto de Gabrielle d’Estrées

Por fim, chegamos ao último andar do castelo, menor que os demais especialmente em razão de que as galerias sobre a ponte do Rio Cher foram construídas apenas nos dois primeiros andares. Ali só há um grande vestíbulo, com restaurações do século XIX intactas, e o Quarto de Louise de Lorraine, aquela que ficou em luto no castelo após a morte de seu esposo, o rei Henrique III. A tristeza é bem evidente na decoração do cômodo, todo escuro e decorado com símbolos de luto: plumas (que representam as penas da alma), lágrimas de prata, pás de coveiros, cordas usadas por viúvas no brasão e coroas de espinhos. Fiquei só imaginando o frio daquele quarto escuro, no alto do castelo, durante o inverno!

Castelo de Chenonceau
Vestíbulo de segundo andar
QUarto Louise de Lorraine
Quarto de Louise de Lorraine

Ao sair de dentro do “château”, vire à esquerda para visitar o Jardim de Catarina de Médicis, um pouco menor do que o de sua rival Diane, mas igualmente refinado e muito bem desenhado com seus gramados verdinhos e canteiros floridos. Dali se tem uma bela vista da fachada oeste do castelo.

Chenonceau jardim catarina
Jardim Catarina de Médicis

Seguindo por aquele lado, você vai encontrar mais algumas atrações da propriedade de Chenonceau, a começar por aquelas localizadas no Edifício dos Dômes, prédio construído na época de Catarina de Médicis.

Bem na ponta, próximo ao jardim de Catarina, há um restaurante em estilo self-service e, logo ao lado, fica a entrada para a Adega dos Dômes, adega histórica do século XVI, onde é possível degustar e comprar os vinhos da propriedade.

Cave de Chenonceau
Adega dos Dômes

Muitíssimo interessante também é a Farmácia da Rainha (Catarina de Médicis), toda em madeira, com prateleiras e mais prateleiras recobertas de jarras, caixinhas, moedores, vasos e todo o tipo de recipientes para acondicionar os remédios de antigamente – chifres de veado, olhos de camarão, sapos e lesmas, por exemplo.

Chenonceau farmácia
Chenonceau farmácia

Na próxima entrada do prédio, há uma reconstituição do Hospital Militar que foi construído nas galerias acima do rio Cher entre 1914 e 1918, custeado pelo senador Gaston Menier e administrado por sua nora, Simonne Menier. Esse foi um lugar que me tocou bastante, pois realmente pude imaginar os feridos da Primeira Guerra Mundial sendo atendidos ali, lado a lado, com médicos e enfermeiros correndo para ajudar a todos.

Chenonceau Hospital Militar

Fora isso, para além do Edifício dos Dômes, você vai encontrar ainda dois jardins ingleses, o Jardim Verde e o Jardim Russel Page (que são, basicamente, gramados muito bem cuidados com algumas árvores especiais), uma fazenda do século XVI, onde há um laguinho com patos e cisnes, o ateliê dos floristas do castelo (que preparam buquês para decorar os cômodos diariamente) e a estrebaria de Catarina de Médicis, onde fica uma coleção de carroças e carruagens do século XIX.

Chenonceau Jardim Russel Page
Jardim Russel Page
Chenonceau fazenda
Fazenda do século XVI
Chenonceau carruagens

Passando a fazenda, fica a horta do Château de Chenonceau, com mais de um hectare, por onde é possível passear tranquilamente, observando as diversas frutas e legumes que são ali cultivadas, assim como os infindáveis tipos de flores usadas para enfeitar o castelo.

Chenonceau horta
CHenonceau horta
Chenonceau asnos
Atrás da horta, indo em direção ao estacionamento, moram os burricos de Chenonceau

E se quiser ter uma experiência gastronômica diferenciada por lá, pode almoçar no Restaurante L’Orangerie, situado em frente ao Jardim Verde. Infelizmente não tive a oportunidade de provar, mas li ótimas avaliações sobre o restaurante…

E aí, ficou com vontade de conhecer o Castelo de Chenonceau? Eu sou de opinião que, se você tiver que escolher apenas um “château” para visitar no Vale do Loire (seja pelo tempo ou orçamento), a melhor opção é fazer o tour completo de Chenonceau, que tem o mobiliário mais interessante, e olhar Chambord apenas de fora (sem pagar ingresso), o que não demora muito e é também imperdível!

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