Jardins de Villandry: espetáculo de cores no Vale do Loire

Jardins de Villandry: espetáculo de cores no Vale do Loire

3 de abril de 2020 4 Por Passagem Comprada

O Castelo de Villandry foi o último dos grandes “châteaux” do Vale do Loire a ser construído durante o Renascimento, por volta de 1536. Hoje em dia, apesar de não ser o mais famoso em termos de arquitetura ou mobiliário, Villandry atrai visitantes do mundo inteiro em razão de seus magníficos jardins perfeitamente recortados e decorados, sem dúvida uma das paisagens mais lindas que você vai ver na vida!

Jardins de Villandry

O responsável pela construção do castelo foi Jean le Breton, Ministro das Finanças de Francisco I da França, que mandou demolir uma fortaleza do século XII, onde, em 4 de julho de 1189, ocorrera a célebre Paz de Colombier, na qual Henrique II Plantageneta, rei da Inglaterra, reconheceu sua derrota face a Filipe Augusto, rei da França. Da época medieval foram aproveitadas apenas as fundações e a torre de menagem, deixada como um testemunho do importante evento histórico.

Villandry torre de mangem2
Torre de Menagem

Jean le Breton, além de entender de arquitetura – participara ativamente da construção de Chambord –, interessava-se pelas artes da jardinagem, as quais teve oportunidade de estudar durante o período em que foi embaixador em Roma. Assim, já quando da construção de Villandy, empenhou-se na realização de belos jardins ornamentais às margens do Rio Cher, que deram notoriedade à propriedade mesmo fora do Vale do Loire.

Em 1754, o castelo tornou-se propriedade do Marquês de Castellane, proveniente de uma ilustre família provençal, que reformou o seu interior para torná-lo habitável conforme os padrões de conforto do século XVIII. Infelizmente as modificações feitas na parte externa não tiveram tanto sucesso e acabaram por tirando um pouco da característica renascentista de Villandry. Os jardins também foram alterados para atender à moda na época, sendo substituídos por jardins formais.

Depois de passar por diversos proprietários (entre eles, Jérôme Bonaparte, irmão mais novo de Napoleão I), o castelo foi adquirido em 1906 pelo Dr. Joachim Carvallo – que abandonou uma promissora carreira científica para dedicar-se a Villandry – e sua esposa Ann Coleman, herdeira de um império americano de ferro e aço. Com muito estudo e trabalho, Joachim Cavallo conseguiu restaurar a fachada do castelo e os seus jardins ao que eram na época do Renascimento. Para os jardins, realizou sondagens arqueológicas e estudou a obra do arquiteto do século XVI J. Androuet du Cerceau (“Les plus excellents bâtiments de France” – Os melhores edifícios da França), que descreve a organização dos jardins na época da Renascença.

Foi ele quem, em 1920, abriu o castelo e seus jardins ao público, tradição mantida por sua família desde então.

Villandry horta

Apesar de estar entre os castelos mais distantes de Paris, o Château de Villandry fica a apenas 20 minutos da cidade de Tours, uma das bases favoritas dos visitantes para conhecer o Vale do Loire. Com um carro alugado, chegar até ele é facílimo!

Logo na entrada, você precisará decidir se pretende conhecer também o interior do castelo ou apenas os seus jardins. Eu, particularmente, fui até lá especialmente pelos jardins, de forma que preferi deixar de lado os cômodos mobiliados para ter mais tempo de conhecer outras atrações no Vale do Loire. Já na bilheteria, tirei a minha principal dúvida, para a qual não havia encontrado nenhuma resposta na internet: é possível ver os jardins do alto sem entrar no castelo? Porque fiquei pensando: deve ser necessário subir em algum terraço ou sacada no último andar para ter aquela vista aérea maravilhosa que a gente vê nas fotos, com os jardins bem desenhadinhos.

Felizmente, a resposta foi sim! É possível ver os jardins do alto sem fazer a visita ao castelo! Há observatórios no alto de uma colina que oferecem uma vista perfeita de toda a propriedade!

Em 2020, o valor normal dos ingressos é o seguinte:

  • Castelo e jardins: 12 €
  • Jardins de Villandry apenas: 7,5 €

Mas pode esperar descontos para crianças, adolescentes, estudantes (residentes na União Europeia) e grupos, além de uma redução nos preços durante os meses de inverno. Todos os detalhes atualizados você encontra no site oficial.

Caso opte por visitar o interior do castelo, com decoração e mobiliário principalmente do século XVIII, é por aí que seu passeio vai começar.

Do contrário, basta seguir o roteiro sugerido no folheto dado na entrada para a visita aos jardins (com opção em português!), que se inicia pela escadaria que dá acesso aos terraços.

Ali você já terá uma visão de tirar o fôlego e terá certeza de que tomou a decisão correta ao visitar os Jardins de Villandry.

Jardins de Villandry

Do alto do terraço, é possível observar bem de perto os jardins decorativos do castelo, sendo que os mais próximos ao edifício são conhecidos por “jardins do amor”, representado, em quatro quadrados, o amor terno, o amor apaixonado, o amor volúvel e o amor trágico.

Castelo de Villandry
Vista que me levou a conhecer os Jardins de Villandry

A vista da horta renascentista também é muito bonita lá do alto.

Dali é possível fazer um passeio pelos bosques e visitar a estufa, chegando, em seguida, ao Jardim da Água: faixas de gramado verde impecável em torno de um enorme lago na forma de um espelho Luís XV, rodeado por uma cerca de tílias. É um local muito tranquilo, onde pude imaginar facilmente aquelas damas de vestidão fazendo seu passeio matinal.

Villandry Jardin de l'eau
Villandry Jardin de l'eau2

Na sequência do trajeto sugerido, passamos pelo Jardim do Sol, o último construído no castelo, tendo por finalidade celebrar o centenário da recriação dos jardins renascentistas por Joachim Carvallo. O Jardim do Sol foi desenvolvido a partir de um desenho do próprio Joachim, com três espaços verdes distintos: O Quarto das Nuvens, com flores azuis e brancas, o Quarto do Sol, em tons de laranja e amarelo, com um laguinho representando os raios do sol, e o Quarto das Crianças, com playground e macieiras.

Jardin du soleil
Jardin du soleil

Outra atração bem legal para crianças é o labirinto, localizado logo em frente ao Jardim do Sol. De acordo com o folheto do passeio, ele representa o percurso terrestre do homem, tendo inspiração cristã e trazendo para o visitante o objetivo de elevar-se humana e espiritualmente. Por isso, diferentemente do labirinto grego, este não apresenta nenhum caminho sem saída.

Labirinto
Labirinto

Em seguida, passa-se pelo Jardim dos Simples, em estilo tradicional da Idade Média, consagrado às ervas aromáticas, culinárias e medicinais. O que mais gostei nesse jardim foram os arbustos trabalhados em topiaria, formando vários espirais verdinhos.

Villandry Jardin des SImples
Jardins de Villandry

Por fim, avista-se a maravilhosa horta renascentista, composta por nove quadrados recheados com diversos padrões geométricos coloridos, formados por flores e vegetais. De cima do pequeno terraço coberto de parreiras (com uvas em setembro!), tem-se a mais bela vista da horta com o Castelo de Villandry, em todo o seu esplendor, ao fundo.

Castelo de Villandry
Jardins de Villandry
Parreiral

A origem desse jardim remonta à Idade Média, quando os monges costumavam organizar as hortas das abadias em formas geométricas, especialmente a cruz. Além disso, entre os vegetais eram também plantadas roseiras, cujos botões eram utilizados para enfeitar as estátuas da Virgem Maria. Os jardins italianos também influenciaram as hortas ornamentais renascentistas, trazendo elementos decorativos como fontes, pérgolas e canteiros de flores.

Jardins de Villandry

A caminhada em meio à horta lindamente decorada e pensada para que cada legume colorido tenha seu papel nos desenhos formados é extremamente interessante. Encontramos alguns vegetais desconhecidos e outros, embora bem familiares, em cores e formatos nunca antes vistos (pelo menos aqui no Brasil).

Villandry horta
Villandry horta

As placas coloridas no lado de fora de cada quadrado indicam as espécies localizadas em cada forma geométrica, de forma que é possível se distrair por horas tentando identificar cada legume disposto na horta. São 40 espécies de vegetais plantados a cada ano, sendo um plantio na primavera (que fica de Março a Junho) e um no verão (que fica de Junho a Novembro).

Villandry

O interessante é que a disposição dos vegetais é alterada a cada plantio, tanto para fins estéticos, quanto para garantir a rotação de culturas e evitar o desgaste do solo, que precisa mesmo de muito cuidado, pois desde 2009 é tudo orgânico nos jardins de Villandry!

Encerrado o passeio, você ainda pode explorar a loja de produtos de jardinagem e a lojinha de souvenirs.

Dentro da propriedade não há opções de alimentação, mas do lado de fora, em frente à bilheteria, há um restaurante para resolver a fome dos visitantes, chamado La Doulce Terrasse.

Leia também: