Como se deslocar no Japão: dicas para usar o transporte público

Como se deslocar no Japão: dicas para usar o transporte público

27 de julho de 2019 4 Por Passagem Comprada

Como é de se imaginar, o Japão é um país muito bem servido de meios de transporte rápidos, organizados e eficientes, possuindo uma das malhas ferroviárias mais incríveis do mundo, com uma pontualidade de dar inveja – o sistema de alto-falantes emite pedidos de desculpas até mesmo em caso de atrasos de poucos segundos (o que já é raro!!!). Só que aí você me pergunta: ok, tudo isso é muito bonito na teoria, mas como faço eu, que não falo uma palavra de japonês, para me deslocar no Japão, usando esse transporte público maravilhoso, comprando os bilhetes certos, e não indo parar do lado contrário ao que eu queria?

E eu lhe respondo: utilizando as ferramentas certas!

Tokyo Subway Map
Olha que lindas as linhas de metrô de Tóquio!

– INTERNET

A primeira providência que você precisa tomar para garantir uma viagem sem estresse e com o menor desperdício de tempo possível (afinal, você terá atravessado o mundo para conhecer o Japão né?) é alugar um modem de internet ou comprar um chip para o celular. Sei que esse post não é sobre isso, mas acho que a internet é indispensável para facilitar o uso do transporte público por lá e por isso essa é a minha primeira dica de como se deslocar no Japão.

Eu mesma não costumo usar internet em viagens: sempre me viro muito bem com mapas offline e quadros mostrando as linhas de metrô na própria estação. Mas dessa vez a insegurança me pegou e aluguei um Poket Wifi – um mini modem, do tamanho de um celular, que transmite internet para até 10 aparelhos conectados. Escolhi isso em vez do chip, porque poderíamos dividir entre duas pessoas e valeria mais a pena financeiramente. Contratei o serviço da Japan Wireless e fiquei bem satisfeita. Quando cheguei no Japão o aparelhinho já estava me esperando no hotel (junto com carregador, power bank e envelope para devolução) e, na hora de ir embora, foi só depositar numa caixa de correio no aeroporto. Custou menos de 2 dólares por dia por pessoa. Outra empresa confiável que oferece esse serviço é a JR Pass, a mesma que vende os passes de trem para visitantes estrangeiros. Basta entrar nesse site aqui e clicar em “Wifi Móvel” para ver os valores.

A grande maravilha de ter internet nos deslocamentos é que o Google Maps tem as suas funcionalidades perfeitamente bem aproveitadas no Japão (diria que melhor que nos outros lugares). Quando você faz a pesquisa de rotas de um lugar para outro, ele lhe traz todas as opções com transporte público, indicando o preço, o tempo de deslocamento e qual saída do metrô você deve pegar para ficar mais perto do seu destino e caminhar o mínimo possível. É uma beleza! E isso dos preços e horários funciona para tudo mesmo: metrôs, ônibus, trens comuns, Shinkansens. Aquela velha história de anotar antes da viagem qual estação de metrô descer e qual linha pegar para visitar determinado ponto turístico perdeu totalmente a utilidade com a internet e a evolução das informações trazidas pelo Google Maps!

Transporte no Japão
Ali onde coloquei a flecha vermelha está o preço total da viagem, somando o valor do Shinkansen com o do metrô entre a estação de Shinjuku e a estação de Tóquio. Clicando em detalhes, aparece um passo-a-passo do trajeto, sendo possível clicar em cada trecho para ver dados como quais os nomes das paradas em todo o percurso, quais saída e entradas pegar nas estações, etc.

– JR PASS

Além de providenciar internet, antes de viajar você precisa fazer alguns cálculos para decidir uma estratégia para se deslocar no Japão. Por que isso? Porque existe um passe para turistas internacionais chamado Japan Rail Pass, que permite o uso ilimitado de diversos trens no Japão por um valor fixo. Os valores são bem salgados, mas as passagens de Shinkansen (trem-bala) também são, então vale a pena colocar tudo na ponta do lápis. Dá uma olhada nas opções, em dólar para facilitar:

  • 7 dias: $279,00
  • 14 dias: $445,00
  • 21 dias: $570,00

Normalmente, o passe compensa se você for conhecer diversas cidades, chegando e saindo no Japão pelo mesmo aeroporto. Por exemplo: uma simples viagem de ida e volta de Tóquio a Quioto já paga o passe de 7 dias!

No meu caso, no entanto, cheguei por Osaka e saí por Tóquio, de forma que fiz uma única viagem longa de Shinkansen (de Quioto até Tóquio), e por isso foi necessário calcular trecho a trecho, todos os meus deslocamentos, para ver se compensaria comprar o passe. Para isso, utilizei o site HyperDia, onde é possível verificar todos os preços e horários de trens no Japão. Depois percebi que o próprio site do JR Pass tem uma calculadora de itinerários e que o Google Maps também faz um serviço bem bom nesse sentido.

O site do Japan Rail Pass também oferece vários tipos de passes regionais, que também podem valer muito a pena dependendo dos seus planos de viagem, então não deixe de calcular tudo direitinho antes de decidir!

Banner JR Pass

Conclusão: para mim não valeu a pena comprar o Japan Rail Pass, o que não me deixou nada feliz, porque com o passe poderia simplesmente entrar e sair dos trens sem ter que me preocupar em comprar cada passagem avulsa. Por sorte, existem outros tipos de cartões e passes que evitam a necessidade de comprar os bilhetes um por um. E é isso que vou explicar agora.

– IC CARDS

A melhor coisa para se deslocar com agilidade nas cidades japonesas é adquirir um IC Card, que nada mais é do que uma espécie de cartão pré-pago aceito em quase todos os tipos de transporte do país (Shinkansen não!).

Você pode comprar e recarregar os cartões nas máquinas localizadas nas estações de metrô, com opção de usar o inglês como idioma, e depois é só encostá-los nos leitores para passar pelas catracas que levam aos trens. O mesmo na hora de embarcar nos ônibus (onde, aliás, caso você não tenha saldo suficiente, pode recarregar o cartão ali mesmo com o motorista).

Os IC Cards também podem ser usados para pagar as compras em lojas de conveniência e em máquinas de venda de bebidas. É tudo realmente muito prático.

A grande vantagem dos cartões pré-pagos é não ter que comprar passagens cada vez que você for usar o transporte público e, mais ainda, não ter que calcular o tipo de passagem que você tem que comprar.

Como assim calcular?

Pois é… Quando você compra uma passagem avulsa, precisa saber exatamente para qual estação está indo e aí procurar num infográfico o valor correspondente à distância que será percorrida. É uma coisa meio chata e que toma tempo – e ninguém quer perder tempo em frente a uma máquina de compra de tíquetes quando poderia estar passeando pelas ruas do Japão né??? Fora isso, se você mudar de ideia no meio do caminho ou errar a estação, vai estar com o tíquete de valor diferente do que devia…

Metrô Japão
Ali naqueles gráfico coloridos mostra o valor da viagem até cada estação.

Por isso, vale muito mais a pena ter um cartão pré-pago!

Existem várias “marcas” de IC Cards, vendidas conforme a região do país (ex.: ICOCA, nimoca, manaca), sendo a maioria delas utilizável (e recarregável) no Japão inteiro. Os mais conhecidos, no entanto, são o SUICA e o PASMO, vendidos em Tóquio.

Todos os cartões têm um custo (normalmente 500 ienes) que, ao final da viagem, pode ser recuperado mediante a devolução do cartão. Mas fique atento: os IC Cards só podem ser devolvidos na mesma região onde foram comprados (ex: SUICA e PASMO em Tóquio, ICOCA na região de Kansai). Como eu cheguei por Osaka e saí por Tóquio, comprei um ICOCA na chegada, usei em Osaka, Nara, Kobe e Quioto, e devolvi nessa última cidade, antes de pegar o Shinkansen para Tóquio. Quando cheguei em Tóquio, comprei um PASMO para usar durante a semana que fiquei lá, fazendo a devolução no próprio aeroporto na hora de ir embora.

No site de cada tipo de cartão, você encontra as informações específicas sobre ele, como locais de compra e devolução, valor do depósito, taxa de reembolso, etc..

Posso adiantar que o SUICA pertence à JR East, de forma que é nas estações dessa empresa que deve ser comprado e devolvido. O PASMO, por sua vez, pode ser adquirido e devolvido nas estações de metrô das companhias particulares (ex.: Keikyu, Tokyo Metro, Toei Subway).

pasmo e suica

Em ambos os casos, o depósito é de 500 ienes e eventual valor em créditos que sobre no cartão no fim da viagem pode ser reembolsado mediante o pagamento de uma taxa 220 ienes. Se sobrar menos de 220 ienes, não tem taxa.

A devolução é feita nos “station offices” ou “commuter pass offices”, que podem ser guichês de venda de bilhetes (não tem nas estações menores) ou balcões que ficam perto das catracas, onde um funcionário cuida para ver se quem ingressa no metrô passou o cartão. É só falar com aquele funcionário ali, que ele mesmo devolve o seu dinheiro na hora. Essa parte é meio estranha, porque ninguém fala inglês direito e a gente não sabe se estão nos entendendo. Mas no fim das contas dá tudo certo (ninguém fala coisa nenhuma e o dinheiro é entregue bem certinho na mão da gente! Hehehe).

Em Osaka, optei por comprar um ICOCA especial para turistas, com as mesmas condições do normal (depósito de 500 ienes e possibilidade de devolução), mas com alguns descontos em atrações turísticas. Chama-se Kansai One Pass e é vendido por 3.000 ienes (crédito de 2.500 e depósito de 500). Os pontos de venda (incluindo no aeroporto de Osaka) estão nesse link aqui e os descontos oferecidos, aqui.

Kansai One Pass

Fora isso, existem passes regionais, válidos para uma área específica, com metrôs, ônibus e trens ilimitados, que também podem ser interessantes dependendo do seu roteiro. Se quiser analisar cada um deles, aqui tem um resumo bem bom.

– PASSE DE METRÔ EM TÓQUIO

Em Tóquio, além de manter o IC Card carregadinho para eventualidades, comprei o Tokyo Subway Unlimited Pass, um passe para visitantes que dá direito ao uso ilimitado do metrô em todas as linhas da Tokyo Metro e da Toei Subway Line (levam a todos os lugares dentro da cidade) e que pode valer muito a pena dependendo do seu roteiro. Os valores são os seguintes:

  • 24 horas – Adulto: 800 ienes, Criança: 400 ienes
  • 48 horas – Adulto: 1.200 ienes, Criança: 600 ienes
  • 72 horas – Adulto: 1.500 ienes, Criança: 750 ienes

Comprei o de 72 horas que é praticamente impossível não valer a pena! Em uma cidade do tamanho de Tóquio, gastar menos de 500 ienes por dia no metrô simplesmente não acontece! Por exemplo, só ida e volta de Shibuya até Asakusa já dá no mínimo 480 ienes (e dificilmente em um dia inteiro alguém vai visitar um único lugar e voltar para o hotel).

Enfim, gostei bastante da proposta desse passe e aproveitei para fazer os passeios com mais deslocamentos nos três dias em que ele estava ativado.

O Tokyo Subway Unlimited Pass pode ser comprado nas maiores estações de metrô, em centros de informações turísticas, em algumas lojas (como a Bic Camera) e em hotéis selecionados. Verifique a lista detalhada nesse link aqui. E leve o seu passaporte na hora da compra para comprovar que é visitante!

SHINKANSEN – O TREM-BALA JAPONÊS

O Shinkansen é a grande maravilha para viajar longas distâncias no Japão e, apesar de caro, vale muito a pena! É confortável, pontual, organizado e fácil de usar, não exigindo nenhum planejamento prévio. Ou seja, perfeito para quem está turistando pelo país.

Deixo aqui algumas informações e dicas básicas sobre ele:

Como eu já disse acima, não é possível utilizar IC Cards no trem-bala: você precisa comprar os bilhetes específicos, à venda na própria estação de trem (a não ser que você tenha o JR Pass, que vale para alguns tipos de Shinkansens). E não precisa se preocupar, porque não tem risco de você chegar lá e não ter mais passagens. Além de os trens saírem com uma frequência bem grande, é possível viajar até mesmo em pé se for necessário!

Existem dois tipos de bilhetes: um mais barato, sem lugar marcado, e um mais caro, com lugar marcado. Os vagões dos trens também são divididos nessas duas categorias e haverá uma indicação (em inglês) de quais podem ser usados por quem comprar passagens sem lugar marcado.

É bem fácil encontrar o trem e o seu vagão com todas as placas escritas em japonês e inglês.

Estação de trem no Japão
Ali na direita do quadro diz que os vagões para uso sem assento reservado são os de 1 a 3 (“Non-Reserved Car No.1-3)

O único defeito do Shinkansen, na minha opinião, é o pouco espaço para guardar malas grandes. Na maioria dos trens, há apenas aquelas prateleiras acima dos assentos, que nem de ônibus, para colocar bagagens pequenas. A única alternativa é posicionar as malas atrás dos últimos bancos do vagão, onde geralmente há um espaço razoável (dá para encaixar umas 4 malas médias). Por isso, além de levar pouca bagagem (não carregue mais do que uma mala média!), tente entrar no trem pela porta traseira do seu vagão: assim já poderá garantir um lugar para as suas malas atrás do último banco.

Shinkansen

Outra curiosidade: apesar de ser pouco educado comer dentro de metrôs, nos trens o lanche não apenas é permitido, como é um costume nacional! Existem caixas muito bonitinhas de comida para viagem, chamadas bento, que são vendidas nas estações de trem e adoradas pelos japoneses. Para quem não teve tempo de comprar a sua, há ainda um carrinho que passa durante a viagem vendendo alguns lanchinhos.

Viagem de trem no Japão
Lá vem o carrinho com os lanchinhos!
Bento Japão
Algumas marmitas japonesas (“Bento”) prontas para serem levadas para uma viagem de trem

Enfim, transitar pelo Japão é muito fácil e será mais umas das experiências que você vai sentir falta quando voltar para casa.

Se eu tiver esquecido de escrever alguma coisa ou se você quiser tirar alguma outra dúvida, é só deixar uma mensagem ali nos comentários.

E se quiser ler a experiência de alguém que usou o JR Pass, dá uma olhada no Blog Recordações de Viagens, que explica tudo direitinho.

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