
Deauville e Trouville-sur-Mer: as praias mais próximas de Paris
Durante minha viagem pela Normandia, tive a oportunidade de conhecer duas cidades vizinhas que, juntas, formam um dos destinos de praia favoritos da elite parisiense para os finais de semana: Deauville e Trouville-sur-Mer. Divididas apenas por um rio e uma ponte, mas bastante diferentes entre si, são uma ótima opção de bate e volta partindo de Paris ou de alguma outra cidade da Normandia!

Como chegar em Deauville e Trouville-sur-Mer
A estação de trem de Trouville-Deauville fica a apenas 2h15 da Gare Saint Lazare em Paris e serve confortavelmente as duas cidades: você consegue ir a pé da estação para qualquer uma delas.

Também é possível fazer a viagem de carro a partir de Paris, sempre pela autoestrada A13, em um trajeto de aproximadamente 2 horas e meia.
Eu, particularmente, estava hospedada em Honfleur durante meu passeio pela Normandia, então em 20 minutinhos de carro cheguei até a Pont des Belges (que divide Deauville e Trouville).

Há diversas opções de estacionamentos, a maioria com parquímetro. Se quiser deixar o carro em um único lugar para explorar as duas cidades, recomendo as vagas mais próximas da ponte e da estação de trem, que ficam exatamente na divisa entre Deauville e Trouville.
Trouville-sur-Mer
Até o início do século XIX, Trouville era um pequeno vilarejo de pescadores frequentado por alguns artistas em busca de inspiração, como o escritor Alexandre Dumas e os pintores Paul Huet e Eugène Isabey. Mas a moda dos banhos de mar chegou na França e a proximidade com Paris começou a atrair um grande número de pessoas que buscavam alguns momentos na beira da praia.

Foram construídas lindas mansões, um cassino, uma passarela de madeira na beira da praia e cabines de banho, tudo para garantir a experiência de lazer perfeita aos visitantes de final de semana.
Hoje em dia, a cidade já não ostenta tanto luxo, como a sua vizinha Deauville, o que faz com que todos se sintam bem à vontade por ali.

Eu visitei em um domingo pela manhã e tive a oportunidade de aproveitar a deliciosa feira que acontece nas quartas e domingos, das 8h às 13h. Degustei e comprei pães, patês, queijos, frutas e sucos, mas também havia barraquinhas vendendo roupas lindas, comidas prontas, massa fresca, legumes e muitas outras coisas.


Esse “marché” começa próximo à Pont des Belges, que separa Deauville e Trouville-sur-Mer, e vai acompanhando toda a margem do Rio Touques.
Mas se sua visita não for em um dia de feira, não se preocupe: o Boulevard Fernand Morceaux é cheio de lojinhas simpáticas, confeitarias e restaurantes de frutos do mar, garantindo uma caminhada muito agradável entre a Pont des Belges e a praia.


Aliás, por falar em frutos do mar, Trouville é um dos melhores lugares na França para degustar essas iguarias fresquíssimas e com uma experiência bem diferente da que estamos acostumados.
Também às margens do Rio Touques fica o Marché aux Poissons (ou “mercado de peixes”), onde são expostos e vendidos camarões, lagostas, ostras, lagostins, peixes, mexilhões e vários outros tipos de conchas (que nem sei o nome), trazidos diariamente do mar pelos barcos pesqueiros.

O mais interessante é que, em frente às barracas do mercado, há mesinhas postas esperando que os clientes escolham os produtos que desejam e os comam ali mesmo, sentados na rua! Alguns dos frutos do mar em exposição já são cozidos (caso você fique na dúvida, procure pela palavra “cuit”), outros devem ser apreciados crus mesmo, como as ostras, e outros podem ser grelhados ou fritos na hora.

E se você achar estranho comer camarões ou lagosta gelados, saiba que na França isso é bem comum. Se você pedir em qualquer restaurante um “prato de frutos do mar”, pode ter certeza que eles virão em cima de um monte de gelo triturado (apesar de estarem cozidos, em sua maioria).

Caminhando um pouco mais pelo Boulevard Fernand Morceaux, chega-se ao Cassino Barrière de Trouville e a um hotel/spa chiquérrimo focado em talassoterapia (tratamentos usando água do mar), algo muito comum na região.

Logo em frente fica a praia de Trouville, com uma ampla faixa de areia e cheia de cabines enfileiradas para trocar de roupa. Coisa que só tinha visto em filmes!

É muito agradável caminhar pela passarela de madeira (Promenade des Planches) que acompanha toda a orla, observando as enormes mansões da Belle Époque, construídas em sua maioria entre 1865 e 1885, e as famosas placas com ilustrações de Raymond Savignac, que passou os últimos 20 anos de sua vida em Trouville. Aliás, há alguns anos o passeio foi rebatizado em homenagem ao artista gráfico, passando a se chamar Promenade Savignac.


Nesse calçadão (o primeiro a ser construído na costa da Normandia), também há diversos bancos azuis com o nome de personalidades que passaram por ali, além de alguns bares, restaurantes e hotéis.


Por fim, não deixe de dar uma caminhada na Rue des Bains, estreita, mas cheia de restaurantes e lojas, especialmente de produtos regionais (como caramelo salgado, sidra, biscoitos amanteigados e o famoso Calvados, um destilado de maçã que recebeu o nome do departamento onde ficam Deauville e Trouville).

Deauville
Do outro lado da Ponte des Belges e da estação de trem, fica a cidade de Deauville, criada e construída a partir de 1854 por iniciativa do Duque de Morny, arquiteto e meio-irmão de Napoleão III, em conjunto com outros investidores, que viram muito potencial nos 240 hectares de campos e mangue em frente ao mar, ao lado da já em voga Trouville-sur-Mer.
Em 1864, após 10 anos de trabalho, a “nova cidade” foi inaugurada com a presença de uma multidão de burgueses e aristocratas, que se reuniu em Deauville para assistir à primeira corrida de cavalos no novo Hipódromo da Touques. Detalhe que, ainda hoje, a cidade recebe os melhores jockeys e cavalos do mundo em corridas importantes, jogos de polo e muitos negócios relacionados: para ter uma ideia, Deauville representa o segundo maior mercado de venda de yearlings (cavalos jovens) do mundo.
Em 1912, foi inaugurado o cassino e o belo hotel Normandy e, aos poucos, boutiques e lojas de luxo foram se instalando nos arredores, como a joalheria Van Cliff et Arpels e a loja de departamento parisiense Printemps.

Mas o maior destaque fica para Coco Chanel, que escolheu a cidade de Deauville para abrir sua primeira loja de roupas (antes só tinha uma de chapéus em Paris). Muitos de seus modelos mais famosos foram inspirados pela vida na cidade, como o estilo marinheiro (baseado nas roupas dos pescadores) e o “bege Chanel” (criado a partir da cor da areia molhada da praia). Foi lá também que ela ofereceu às mulheres ricas a possibilidade de usar roupas mais confortáveis e adequadas ao clima praiano, livres de espartilhos e com tecidos mais leves, representando uma verdadeira revolução na moda da época.
Caso queira ver o local onde ficava sua loja, hoje é o número 11 da Rue Lucien Barrière.

Deauville também sempre foi famosa pelas grandes produções artísticas – os ballets russos, por exemplo, foram apresentados na França pela primeira vez no Cassino da cidade.
A partir de 1975, passou a receber o Festival do Cinema Americano de Deauville, que ocorre todos os anos em setembro.
Uma das atividades imperdíveis para quem visita a cidade, é procurar os nomes de grandes estrelas que já frequentaram o festival nas cabines de banho estilo art déco localizadas na beira da praia.

Aliás, passear na praia de Deauville também é algo que deve estar no seu roteiro. A principal característica ali são os guarda-sóis coloridos que ficam permanentemente espalhados sobre a ampla faixa de areia. Quando não estão sendo utilizados, ficam amarrados com o famoso nó “deauvillais”, mas, ao serem abertos, viram verdadeiras barracas de praia, capazes de proteger do sol e, principalmente, do vento que bate forte na cidade.

Ao longo da praia, um calçadão de madeira de 650 metros de comprimento, chamado de “Les Planches”, é o local para ver e ser visto em Deauville. Construída em 1923 para permitir que as damas passeassem na beira da praia sem sujar seus longos vestidos, hoje a passarela é classificada como monumento histórico francês e recebe, principalmente nos finais de semana de verão, um público dos mais selecionados.

Perto da praia fica um centro de talassoterapia, como o de Trouville, e uma piscina olímpica de água do mar, cuja arquitetura lembra a de uma concha. Se você quiser nadar, saiba que ela é aquecida e aberta ao público por valores bem interessantes (por exemplo, em 2023, o valor para um adulto usar a piscina no final de semana era 6€).
Não deixe de dar uma caminhada também pelo centrinho da cidade, muito bem cuidado, cheio de lojas chiques e casas de arquitetura normanda.

São especialmente bonitas a Rue du Casino e a Place Yves Saint-Laurent, com suas lojas de marcas famosas instaladas em edifícios de estilo enxaimel.


Você também pode tentar a sorte no Casino Barrière, mas lembre-se de levar uma roupa mais arrumadinha para não passar vergonha.
Dali, pegue a Rue Eugène Colas e caminhe até a Place de Morny, cercada de lojas, restaurantes, padarias e confeitarias.
Outro lugar bastante visitado em Deauville é a Villa Strassburger, uma mansão em estilo normando muito bonita, construída pelo barão Henri de Rothschild em 1907. Ela foi inscrita na lista de monumentos históricos da França em 1975 e hoje pertence à cidade, podendo ser visitada pelo valor de 7,50€ (é obrigatório reservar pelo site). Dizem que a casa conservou seu mobiliário de época, decorações, quadros de cavalos e outros itens dos antigos moradores. Infelizmente não tinha feito reserva, então não pude visitar Villa Strassburger.

Eu achei Deauville e Trouville-sur-Mer muito simpáticas, apesar de ter pego uma chuva danada no dia da minha visita. Espero poder voltar com o céu azul para caminhar com mais tranquilidade e ver a praia cheia de gente!
Leia também:
- O que fazer em Rouen, a capital da Normandia
- Honfleur: a cidade mais bonita da Normandia
- Monte Saint-Michel: guia completo para sua visita
- Étretat: o paraíso das falésias na Normandia
- Jardins de Monet em Giverny: tudo que você precisa saber
- O que fazer em Saint-Malo, na Bretanha
- Francês para viagem e dicas para ser bem tratado na França
- Panthéon de Paris: história, ciência e vistas incríveis
- Caminhada por Montmartre – a Paris dos artistas
- Dicas para comer bem e barato na França