O que fazer no Marais: roteiro pelas ruas da região

O que fazer no Marais: roteiro pelas ruas da região

14 de julho de 2020 5 Por Passagem Comprada

Possivelmente o bairro mais descolado de Paris, o Marais é o lugar perfeito para passear como um parisiense, olhando as vitrines de lojas interessantes, tomando um café em algum lugar da moda e até mesmo relaxando por alguns momentos na grama verde da querida Place des Vosges. Tem muito o que fazer no Marais!

Uma caminhada pela região vai levá-lo através de ruas estreitas de paralelepípedos, passando em frente às mansões da nobreza e da alta burguesia do século XVII, atravessando ruas tomadas pela gastronomia judaica e chegando a um dos museus mais visitados de Paris, o Centre Pompidou.

Marais Paris

Para lhe ajudar a aproveitar ao máximo esse bairro que tem tanta coisa legal para oferecer, preparei uma sugestão de caminhada pelo Marais, com alguns dos lugares mais interessantes da região.

Marais mapa
Sugestão de roteiro – os pontos azuis maiores mostram um trajeto mais objetivo, enquanto os pontinhos pequenos sugerem outras ruas interessantes para explorar, com comércio, bares e cafeterias

Bora lá?!

Vamos começar nosso passeio pela Place des Vosges, a praça planejada mais antiga de Paris, construída entre 1605 e 1612 a mando do rei Henrique IV. Em um formato quase que perfeitamente quadrado, a praça é delimitada por mansões padronizadas, feitas de tijolos vermelhos e com telhados de ardósia azul, todas as 36 exatamente da mesma altura em razão de um decreto real. Apenas dois pavilhões se sobressaem: o do rei, mais alto de todos, localizado ao centro da fachada sul, e o da rainha, ao centro da parte norte.

Place des VosgesPlace des Vosges

No térreo, as construções são marcadas por suas arcadas, que fazem toda a volta na praça e dão um charme especial ao lugar. É sempre interessante explorar os estabelecimentos que se localizam atrás de cada conjunto de arcos, os quais variam de galerias de arte e boutiques finas, até confeitarias (como a maravilhosa Carette) e a um dos restaurantes mais chiques de Paris, o L’Ambroisie, com 3 estrelas Michelin há mais de 30 anos.

Place des Vosges

A Place des Vosges é conhecida por seus residentes famosos, como Charpentier, Bossuet, Colette, Isadora Duncan e Dominique Strauss-Kahn. Talvez o mais célebre, no entanto, seja o escritor Victor Hugo, que alugou o apartamento no segundo andar do número 6 por dezesseis anos (de 1832 a 1848). Hoje em dia, o local abriga um museu com entrada gratuita que conta um pouco sobre a trajetória do escritor, chamado “Maison Victor Hugo“.

Além de um local histórico, a Place des Vosges é também um refúgio para estudantes e trabalhadores da região, que aproveitam a sombra de suas inúmeras árvores perfeitamente alinhadas ou a maciez dos tapetes verdinhos de grama para descansar ou fazer um lanche durante seus horários de intervalo. Pode ter certeza que em um dia de temperatura agradável, no horário de almoço, os gramados estarão cobertos de parisienses lagarteando! Minha sugestão: compre um doce bem bonito em uma das pâtisseries da região e junte-se a eles para um mini piquenique!

Place des Vosges Marais

Por dentro da Place des Vosges, é possível utilizar uma passagem que leva até o Hôtel de Sully, um palacete em estilo Luís XII, construído entre 1624 e 1630, que hoje em dia abriga o Centre des Monuments Nationaux.

Hôtel de Sully Marais
Hôtel de Sully

É possível atravessar todo o edifício, passando por dentro da antiga Orangerie, pelo jardim e pelo pátio, chegando até a Rue St. Antoine, onde fica sua entrada principal. A arquitetura é realmente impressionante, cheia de esculturas e detalhes entalhados nas janelas. Sem dúvida é um dos mais bem conservados exemplos dos enormes “hôtels particuliers” do Marais.

Hôtel de Sully
Hôtel de Sully
Hôtel de Sully

Ao chegar à Rue St. Antoine, uma rua bem movimentada e cheia de comércio, caminhe um pouco para a direita (direção Louvre) e logo avistará a impressionante Paróquia Saint-Paul Saint-Louis construída de 1627 a 1641 pelos arquitetos jesuítas Étienne Martellange e François Derand, a mando de Luís XIII.

Paróquia Saint-Paul Saint-Louis
Paróquia Saint-Paul Saint-Louis

Ande mais uma quadra e estará na hora de se embrenhar definitivamente nas charmosas ruelinhas do Marais.

Vire à direita na Rue Pavée, já se aproximando da região judaica do bairro. Sugiro uma paradinha na confeitaria L’Éclair de Génie para provar algumas da melhores éclairs de Paris (na minha humilde opinião). Você pode comprar para levar ou sentar nos fundos da loja e tomar um café ou chá.

L'Éclair de Genie
Paraíso!

Logo você chegará à Rue des Rosiers, tradicional coração do Pletzl, o “bairro” judeu, onde uma pequena comunidade judaica já existia desde a Idade Média. Mas, após séculos sendo expulsos e novamente aceitos em Paris, os judeus retornaram em grande número no final do século XIX, visto que a França foi o primeiro país europeu a reconhecê-los como cidadãos com direitos civis. Foi nessa época que se instalaram definitivamente na região do Marais.

Rue des Rosiers
Rue des Rosiers Marais

Por essa razão, a Rue des Rosiers, apesar de já ter perdido muito da sua identidade, ainda é o melhor lugar de Paris para degustar um bom falafel ou alguns dos mais tradicionais doces da culinária judaica. As principais opções gastronômicas ficam entre a Rue Ferdinand Duval e a Rue Vieille du Temple. Nos horários de almoço, espere encontrar fila nos restaurantes de falafel mais populares, como o L’As du Falafel e o Chez Hanna, onde a “moda” é comprar a comida em estilo “takeout” e comer ali pela rua mesmo.

Rue des Rosiers
Clássica padaria e confeitaria judaica
Boulangerie Murciano
Boulangerie Murciano – vale a pena espiar a decoração antiquíssima no interior

Se você for curioso como eu, vai gostar de entrar na portinha localizada no número 10 da Rue des Rosiers, que leva a um pequeno jardim fechado e bem escondidinho, chamado Jardin des Rosiers Joseph Migneret. Passar alguns minutos em meio ao verde e aos edifícios antigos que circundam a praça traz uma sensação incrível de “pertencimento”, como se a gente pudesse se tornar, por poucos momentos, um verdadeiro parisiense conhecedor dos cantinhos secretos da cidade.

Na Rue Vieille du Temple, assim como na Rue des Francs Bourgeois, você vai encontrar inúmeras boutiques descoladas, lindas para olhar a vitrine, mas com preços nada convidativos (com algumas poucas exceções, como a UNIQLO, aquela loja japonesa de moda básica com ótima qualidade).

Rue Vieille du Temple
Rue Vieille du Temple
Rue du Trésor
Rue du Trésor – calçadão cheio de bares e restaurantes que inicia na Rue Vieille du Temple

Caminhando pela Rue des Francs Bourgeois para além Rue Vieille du Temple, começa-se a perceber a presença de imponentes prédios antigos, que nada mais são do que belos exemplos dos típicos palacetes (“hôtels particuliers”) do Marais, construídos no século XVIII. Hoje em dia, eles abrigam os Arquivos Nacionais e formam, em seu centro, o Jardin des Archives Nationales – uma sucessão de jardins pertencentes aos “hôtels particuliers” d’Assy, de Breteul, de Fontenay, de Jaucourt e de Rohan. É possível visitá-los gratuitamente, sendo que há portas de acesso no nº 60 da Rue des Francs-Bourgeois e no nº 11 da Rue des Quatre-Fils. Acho uma oportunidade bem interessante de conhecer esses jardins privados e poder imaginar como era suntuosa vida dos proprietários dos palacetes.

Apenas duas quadras adiante, chega-se ao Centre Georges Pompidou, que embora fique no limite exterior do Marais, merece ser incluído nesse passeio pela conveniência de sua localização e também pela sua importância. Construído por iniciativa de Georges Pompidou, Presidente da França de 1969 até 1974, o centro cultural foi inaugurado em 1977 após uma grande competição de arquitetura para escolha de seu design. O projeto escolhido foi inovador e definitivamente trouxe um colorido peculiar ao cinza clássico da região, com seus tubos azuis (para circulação de ar), verdes (para água), amarelos (para eletricidade) e vermelhos (para pessoas – escadas rolantes e elevadores) todos à mostra.

Centre Georges Pompidou

O Centre Georges Pompidou, chamado familiarmente de Beaubourg (em razão de sua localização) pelos parisienses, abriga o Museu Nacional de Arte Moderna (uma das três coleções mais importantes de arte moderna e contemporânea do mundo), além de importantes galerias de exposições temporárias, salas de espetáculo e cinema, e a Bibliothèque Publique d’Information, primeira biblioteca pública de leitura da Europa. Fora isso, dois prédios anexos acolhem, ainda, o IRCAM (instituto de pesquisa musical e acústica) e o Atelier Brancusi (uma réplica do ateliê do escultor romeno).

Pompidou

No terraço do Pompidou, no 6º andar, fica ainda o restaurante Georges, de onde se tem uma ótima vista da cidade de Paris. É possível ver a vista de Paris sem pagar a entrada do museu e sem usar os serviços do restaurante mediante o pagamento de um ingresso de 5 €.

No primeiro domingo do mês, tanto o acesso à vista de Paris quanto ao museu são gratuitos!

Maiores informações sobre preços e horários você encontra no site oficial do centro cultural.

Saindo do Centro Pompidou, passe pela curiosa Fontaine Stravinsky, cheia de esculturas coloridas de arte moderna dentro d’água e normalmente cercada por artistas de rua que trazem animação ao local.

Fontaine Stravinsky

Duas quadras adiante, seguindo pela Rue du Renard, chega-se à Rue de Rivoli e avista-se o imponente prédio do Hôtel de Ville, que abriga as instituições municipais (Câmara Municipal e Prefeitura de Paris) desde 1357. O prédio atual, reconstruído entre 1873 e 1892 após um grande incêndio durante a Comuna de Paris em 1871, é uma reprodução quase idêntica (em seu exterior) da imponente prefeitura em estilo renascentista projetada pelo arquiteto italiano Dominique De Cortone (conhecido como Boccador) a mando do rei Francisco I. A construção original teve início em 1533 e só foi concluída em 1628.

Hôtel de Ville

A enorme praça em frente, chamada hoje de Place de l’Hôtel de Ville, também respira um tanto de história. Antiga Place de Grève (palavra que significa uma espécie de praia de areia e cascalho), ela já foi o principal porto de Paris, abrigou um agitado mercado e foi palco de inúmeras execuções. Hoje em dia segue sendo um local bastante movimentado, sendo frequentemente utilizada para eventos sazonais voltados à cultura, lazer ou esporte, além de ser o melhor lugar para tirar boas fotos do Hôtel de Ville!

Hôtel de Ville de Paris

Do outro lado da Rue de Rivoli, bem em frente à prefeitura, fica uma das mais antigas lojas de departamentos de Paris, a BHV, cujas ruas laterais, em especial a Rue des Archives, são cheias de bares e restaurantes muito frequentados pela comunidade LGBT.

BHV Marais
BHV Marais
Rue des Archives
Rue des Archives

Ufa! Depois de tanto caminhar, acho que o mínimo que merecemos é um doce francês bem maravilhoso né? A nossa sorte é que o Marais abriga diversas das melhores pâtisseries de Paris e, bem pertinho da BHV, tenho duas ótimas para recomendar: a Michalak, na Rue de la Verrerie, e a Pierre Hermés, na Rue Sainte-Croix de la Bretonnerie.

Michalak Marais
Alguns dos “docinhos” da Michalak

Garanto que em alguma delas você vai encontrar um doce bem especial para fechar seu roteiro pelo Marais com chave de ouro!

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